15 de novembro de 2012

LAURO BACCA



O túnel hídrico-viário

Comentamos há uma semana que o Centro de Blumenau estrangula-se bem no meio de uma espécie de cruz geográfica (bastante irregular), cujos braços seriam o próprio Rio Itajaí-Açu cortando a cidade de Leste a Oeste e o eixo vertical seria uma cadeia de morros e montanhas cortando a cidade de Norte a Sul. Há milhões de anos, o rio forçou passagem pelo meio desses morros. Há 162 anos, a passagem Leste-Oeste inicial dos primeiros colonizadores alemães era o próprio rio. Logo vieram as picadas e os caminhos na mata que se transformaram em ruas paralelas ao rio, como a pioneira Wurststrasse, a rua da linguiça, atual Rua XV.

A transposição do rio vem sendo resolvida historicamente com a construção de pontes. Já a transposição das montanhas que compõem o eixo vertical da cruz se resume, basicamente, até hoje, na margem direita, a três ruas centrais – XV de Novembro, 7 de Setembro e a Beira-Rio, esta já invadindo parte do espaço fluvial, auxiliadas de certa forma pela tortuosa ligação entre os bairros Bom Retiro e Velha.

Na margem esquerda, a ligação ocorre na prática apenas por uma única via, a Avenida Brasil, na Ponta Aguda. Não há outra alternativa, a não ser um enorme desvio de quase 20 quilômetros por Belchior, em Gaspar e BR-470 para, finalmente, atingir o Oeste da cruz geográfica, via bairros Tribess e Fortaleza. É aqui que entra o túnel, de apenas uns 1.100 metros de comprimento, já referido no artigo anterior (Santa, 7 de novembro), que ligaria o final da Rua das Missões às proximidades da Ponte do Anel Viário Norte, passando por baixo do morro da Ponta Aguda (Morro da Pedreira).

Na década de 1920, o engenheiro Otto Rokohl já pensava em desviar o Rio Itajaí-Açu por um túnel nesse local, ideia hoje ecologicamente inviável.

Mais recentemente, surgiram os que defenderam, inclusive aqui no Santa, o túnel viário. Por que não unir as duas propostas numa só, um túnel misto, tipo hídrico-viário? Isso bem que mereceria um estudo multidisciplinar sério, feito por arquitetos urbanistas, engenheiros, hidrólogos, ecólogos e outros. Um túnel com rodovia e ciclovia (também ferrovia?) em tempos normais e como desvio de parte do volume de águas, em caso de cheias, a partir de uma certa cota de enchente, digamos, uns 11 metros, não apenas seria “a” obra. De quebra, aliviaria a pressão hídrica sobre a margem esquerda no Centro, desculpa discutível, usada hoje, para não ter mata ciliar nesse trecho do rio.

autorizado pelo autor.
também publicado em www.santa.com.br


Nenhum comentário: