GOTT MIT UNS
Inscrição cunhada nas fivelas dos soldados alemães durante
as grandes guerras; significa “Deus conosco”. Lembro-me de ter visto
documentários mostrando sacerdotes benzendo canhões; a proteção divina foi
invocada por todos e canhões abençoados se confrontaram em combates
encarniçados. Deus tem sido invocado para intervir em todas as causas, boas ou
más.
Em pauta a discussão sobre o uso de símbolos e alusões
religiosas em casas parlamentares, edifícios governamentais ou imiscuídos na
rotina pública. A questão é desencadeada pela exigência – procedente – do
Ministério Público para que se retire das cédulas de real a frase “Deus seja
louvado” introduzida indevidamente pelo presidente José Sarney. Indevidamente,
pois o Brasil é um país laico desde a instauração da república em 1890. Segundo
o dicionário Houaiss, laico significa: que ou aquele que é hostil à influência,
ao controle da igreja e do clero sobre a vida intelectual e moral, sobre as
instituições e os serviços públicos. Portanto, um mero crucifixo em prédio
público ou uma frase numa cédula representam uma influência explicita, uma
desconsideração, para com os não seguidores. Mal comparando, seria como afixar
um escudo de time de futebol – Coríntians, Grêmio, Metropolitano – agradando
alguns e aborrecendo outros.
Um leitor oportunamente lembrou: e os feriados religiosos?
De fato, o assunto cai no mesmo caso. É um resquício dos tempos imperiais. Um
segundo leitor apontou outro vício, este no preâmbulo da Constituição de 1988:
“sob a proteção de Deus”. Estes detalhes aportados contribuem para aprimorar a iniciativa
do Ministério Público...
Quanto aos feriados religiosos poder-se-ia estipular quatro
datas equidistantes no calendário e denomina-las “feriados de rito” e aí cada
qual venere a divindade de sua devoção; ou vá passear, como faz a maioria.
Poderia se iniciar com 25 de dezembro, conceda-se.
Quanto às moedas, Cristo emitiu opinião clara: mal
intencionados fariseus lhe perguntaram se deviam ou não pagar impostos. Não era
uma dúvida inocente, queriam indispô-lo com o Império Romano, um pretexto para
finalmente eliminá-lo. Percebendo-lhes a artimanha, pediu-lhes mostrarem um
Denário – a moeda de então – perguntando de quem era a efígie sobre a moeda? De
César, responderam. Cristo então concluiu sua lição: “dai, pois, a César o que
é de César e a Deus o que é de Deus.”
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