5 de maio de 2012
LAURO BACCA
Lambança ambiental
O Congresso Nacional perdeu mais uma chance de melhorar sua imagem perante a opinião pública, que já não é das melhores, ao aprovar, na Câmara dos Deputados, uma verdadeira lambança ambiental, um monstrengo sem pés e muito menos cabeça, apelidado de Código Florestal Brasileiro. Ao fazer isso, a Câmara conseguiu piorar ainda mais o texto já ruim que saiu do Senado, também fruto de omissão ou, no mínimo, leniência do próprio Executivo, na defesa dos interesses nacionais.
Não vejo o resultado como uma vitória dos ruralistas ou uma derrota do governo. Vitorioso foi o modelo produtivo predatório que ainda existe no país. Derrotado foi o interesse público nacional, a nação e a visão global, planetária. Sim, planetária, pois, as questões ambientais não se restringem às artificiais fronteiras políticas estabelecidas pelos homens, uma vez que na biosfera tudo está ligado com tudo. As consequências do desmatamento, ventos contaminados, rios e lençóis freáticos poluídos, correntes marítimas, efeito estufa e mudanças climáticas não deixam de avançar só porque ali adiante tem uma fronteira nacional!
Derrotados ficaram o bom senso, a visão científica, holística e sistêmica dos fatos e processos. Derrotadas ficarão a sustentabilidade e a qualidade de vida das futuras gerações e das pessoas que ainda nem nasceram e que sofrerão os efeitos dos nossos atos atuais. Derrotada foi a biodiversidade, a vida e a segurança jurídica, tudo em nome da falsa desculpa da necessidade de produção de alimentos para um mundo com 7 bilhões de bocas (êpa, olha a visão global aí, quando interessa!).
Desculpa esfarrapada, num país que poderia conservar melhor o solo agrícola já existente, duplicar a produtividade das pastagens, produzindo o mesmo em 100 milhões de hectares a menos, além de recuperar outro tanto de áreas degradadas para a agricultura. No total, sobrariam 200 milhões de hectares extras para a produção, sem necessidade de mais nenhum desmatamento sequer.
Derrotados, se nada for feito (vete tudo, Sra. Presidente!), serão os cidadãos de bem que cumpriram as leis e agora ficam com cara de tacho, vendo seu vizinho devastador ser anistiado dos seus desmatamentos ilegais e ainda, lei de Gerson, levar vantagem, enquanto que o bom cidadão nem incentivo à preservação recebe.
autorizado pelo autor.
também publicado em: http://www.santa.com.br/
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