21 de maio de 2012

CEZAR ZILLIG




  • "Pactos de morte

    Topo, em meio a um conto de Carlos Heitor Cony, com o assunto do título e ao qual já fora apresentado por Nelson Rodrigues. Lendo o Nelson, fiquei sabendo que antigamente, lá pelas décadas de 20, 30, 40, os tais pactos eram uma constante nos noticiários.

    Havia um motivo único que levava a procedimento tão desesperado, extremo: a proibição de um romance entre dois jovens por uma ou ambas as famílias. Acabei de dizer que era uma prática comum na primeira metade do século passado, mas pensando melhor, me ocorre que a mais famosa história de amor, Romeu e Julieta, reporta precisamente isto: a simulação de um pacto de amor que deu errado e cabou se concretizando. Portanto, era uma prática conhecida há séculos. Nelson Rodrigues, que na sua juventude foi repórter policial, conta casos escabrosos. Relata um, onde o casalzinho incompreendido resolve chocar e punir as famílias cometendo um suicídio simultâneo embora em lugares diversos. Combinaram que às três horas da tarde cada um, em suas próprias casas, se encharcariam de álcool, ou gasolina, e ateariam fogo às vestes. Foi assim que pelas três o namorado, ouvindo os gritos de sua amada, pois moravam no mesmo quarteirão, se deu conta que estava atrasado e tratou de honrar logo a sua parte no trato macabro. O mais comum, no entanto, era o casal se matar junto. Escolhiam um lugar mais bucólico, romântico, com algum significado especial e juntos compartilhavam um copo de formicida. Consta que no Rio de Janeiro um dos lugares mais procurados para o sinistro ritual era junto a uma cachoeira na floresta da Tijuca.

    É de se perguntar por que uma “moda” tão dramática desapareceu por completo dos usos e costumes. Um pouco de reflexão traz a resposta: nestes últimos 50 anos a sociedade sofreu profundas modificações, também em seus valores. A banalização do sexo promovida pelos anticoncepcionais hormonais acabou com a exigência da virgindade.

    Uma sociedade que aprova e se deleita com coisas como BBB é incapaz de produzir romances sublimes o suficiente para grandes sacrifícios, sacrifícios extremos. Hoje, falta ainda outro ingrediente essencial no pacto de morte: não há pais ou famílias com autoridade – autoritarismo! – suficiente para impor suas escolhas aos filhos. Felizmente.
    "


    enviado por e-mail.
    também publicado em:www.santa.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

Felizmente!!!!!!

Anônimo disse...

Isso acontecia no tempo que os pais escolhiam os maridos para as suas filhas virgens.