14 de maio de 2012

CEZAR ZILLIG


Dr. Jivago?


Tempos atrás me surpreendi ao verificar que um representante de medicamentos nunca assistira e nem ouvira falar do famoso filme, um sucesso universal em meados da década de 60. Certamente, deve ter ouvido alhures a comovente melodia que muito contribuiu para o sucesso do filme: o Tema de Lara. (Aliás, via uma grande semelhança física entre o poeta Lindolf Bell e o Dr. Jivago da tela do cinema.)

Depois constatei que o jovem representante também nunca assistira a qualquer das grandes produções, verdadeiros “must” das décadas de 50 e 60, como Os Dez Mandamentos, Ben Hur, Cleópatra etc, filmes que bateram recordes de custos de montagem e de bilheteria. Longos, todos durando em torno de 200 minutos de projeção. Não, estas obras primas não faziam parte de sua vivência cinematográfica.

Dia desses, em conversa com um jovem e promissor advogado, descobri que ele não ouvira falar nem tinha ideia de como eram as músicas arranjadas e executadas pelo coro e orquestra de Ray Conniff, que nos anos 60 eram onipresentes nas rádios, bailes, festas etc. Conniff vendeu 70 milhões de discos mundo afora. Músicas primorosas, de excelente qualidade, que então eu imaginava seriam sempiternas no gosto popular. Pois bem, me enganei: o jovem e culto amigo não tivera contato com a obra de Ray Conniff e, prosseguindo a investigação, também constatei que ele não assistira ao Dr. Jivago e ao resto do kit acima. (Confesso que sinto uma ponta de inveja deles, com tanto deleite os aguardando...)

A partir daí, me surge uma dúvida: quanta beleza, quanto enlevo, embevecimento existe sepultado em filmotecas, discotecas, bibliotecas, que não foram apresentadas a mim e à minha geração? Às gerações seguintes?

Cabe aqui uma pergunta grave: quem decide, quem dita o que o grande público deve receber para seu regozijo? Exatamente isto o que o amigo leitor está pensando: o interesse econômico. Noventa por cento do que se assiste e se ouve hoje em dia é lixo se comparado com a qualidade do melhor que se produziu no passado. No entanto, as criações do passado não rendem mais dividendos, já deram o retorno financeiro que tinha que dar. Mozart, Strauss, Noel Rosa, Ary Barroso etc estão mortos, não frequentam corredores de gravadoras nem agendam shows. Vive-se dias de subnutrição melódica.

enviado por e-mail.
também publicado em: http://www.santa.com.br/




2 comentários:

Anônimo disse...

Concordo!

Ahhh! Eu assisti esses filmes, e também escutei as músicas.

Anônimo disse...

e pelo minguado número de comentários.....ai ai que tristeza. Mas pergunta sobre a novela da Globo, ou sobre o escândalo no programa Pânico....essas bobagens todos sabem.
A grande mídia é que comanda o que o povo "pode" saber. Vida de gado.