CESAR ZILLIG

"representatividade!
(Atenção, sr. redator: favor grafar o título assim, em minúsculas, pois minúscula é a representatividade dos anseios do povo brasileiro apesar dos abarrotados parlamentos do país).

Embora o assunto já tenha se tornado nauseabundo, é por demais importante e uma oportunidade para expor algumas verdades e outros tantos absurdos.

Impressiona como a classe política costuma tropeçar em seus próprios argumentos: se até em casos tão óbvios como este, onde a opinião pública é quase unânime, os edis relutam e ameaçam ignorar este anseio, como podem argumentar pretenderem melhorar a representatividade através de mais deles? Mais do mesmo?

Vive-se um suposto regime democrático onde “democracia” é mais uma desculpa que um fato. Na melhor das hipóteses, a vontade do eleitor é a terceira a ser considerada após os interesses pessoais – primeiríssimo lugar – e partidários.

O cidadão ganha uma eleição e passa a se portar como um pequeno ditador; o país está tomado por milhares de pequenos ditadores mancomunados em partidos que relutam em fazer a reforma política, a reforma tributária, a reforma do Judiciário, necessidades há muito identificadas e que estão na raiz de todas as mazelas nacionais.

Enquanto candidato, o político não perde oportunidade para cair nos braços do povo, apertar mãos, beijar criancinhas. É o homem do povo por excelência: aparenta um deles, proclama ter os mesmos problemas, mesmos gostos, mesmos sonhos, mesmo cheiro. Multiplica-se em cartazes de tamanho natural e se posta nas esquinas de maior movimento. Tão logo ganhe as eleições vira príncipe: refugia-se num gabinete, cerca-se de assessores que lhe garantem a tranquilidade. Cada vereador, cada deputado e cada senador dispõe de mais funcionários que a maioria das empresas existentes no país, e o resultado qual é?

Só para citar alguns dos mais comezinhos e recalcitrantes anseios de que o blumenauense queixa-se insistentemente e que estariam entre os deveres da Câmera assegurar: calçadas decentes, ruas arborizadas, livres de barulho; coisinhas simples assim, mas tão difíceis de se concretizarem. São anseios manifestados dia após dia nas páginas dos jornais; se quinze “representantes” do povo têm sido incapazes de reconhecer isto, tampouco vinte ou trinta o farão."

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