22 de agosto de 2011

CESAR ZILLIG



"Caro Fabrício
Em 23 de fevereiro deste ano, você deixou sem nos deixar. Graças à magia da informática mantém um olho perspicaz aqui nesta cidade e neste povo, conquistados por sua simpatia e pela prosa sui generis.

Percebe de longe o que rola por aqui. Num exercício de ceticismo você questiona se só professores e alunos estariam visceralmente envolvidos na luta pela federalização da Furb. Bem, aqui, pra quem olha de fora e ao derredor, de fato as passeatas têm as dimensões aproximadas da soma do corpo docente e discente da instituição. Mas e daí? Não há mal algum em desejar estudar de graça (de graça?) ou, por um desígnio do destino, ver-se guindado à privilegiada condição de funcionário público federal. Não, não há pecado nisto. Compreende-se. Eles negam, claro, mas é difícil dissimular semelhantes aspirações. Se tem alguém aqui lutando por puro civismo? Acho que não; caso contrário as passeatas inflamadas já teriam iniciado por ocasião da greve dos professores da rede estadual de ensino. Em termos de educação o Ensino Fundamental é o prioritário; há unanimidade quanto a isto.

A região merece uma universidade federal, sim. Mas, em termos de escassezes federais, caro Fabrício, há necessidades maiores e mais urgentes. A duplicação da 470 continua a prioridade absoluta, caso de vida ou morte. Com exceção de um protesto realizado pelos indaialenses, não se têm visto muito luta “cívica”, para usar seu próprio termo. É uma luta estagnada, lembra a batalha do Somme, onde as posições não se alteram, apenas aumenta a montanha de mortos.

O governo federal, que costuma devolver apenas 60% dos impostos aqui arrecadados, nos deve muito. Nossas maiores carências são justamente na esfera federal: as BRs são precárias, mesmo com a bitributação do pedágio; a segurança é substituída pela criminalidade. A saúde, proporcionada pelo SUS, é a mesma lástima. A emoção do momento é a expectativa de um “mutirão de cirurgias”. E o mais hilário é que para tanto lançaram uma campanha publicitária vendendo este ato de desespero como se fora uma legítima preocupação com a saúde do povo. Político é fogo!

Esqueceram, porém, um detalhe sine qua non: persuadir os cirurgiões a trabalharem pela simbólica tabela do SUS... Mais ou menos é isto, meu caro, o relato neste momento e neste espaço. Um abraço."


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Um comentário:

Anônimo disse...

Grande verdade!