15 de agosto de 2011

CESAR ZILLIG



"Animal de teta
Em termos de pai, eu tive sorte; tive um pai especial, criativo, interessante. Quando eu era criança, época em que o chamava de “paiê”, ele me fazia brinquedos das coisas mais simples. Uma das primeiras casas em que moramos era num terreno limitado por um córrego; ainda recobro o encanto que me proporcionou uma “roda d’água” que ele improvisou com uma maçã: trespassou o eixo da fruta com uma vareta e espetou diversas colherinhas de sorvete, daquelas de madeira, ao redor da maçã à guisa de pás. Depois foi só instalar o engenho sobre a corrente de água de maneira que as pás inferiores ficassem mergulhadas no fluxo. As extremidades da vareta eixo foram apoiadas sobre duas pedras e estava pronto a “roda d’água” que ficou girando lá por toda a tarde.

Entre as remotas lembranças de minha infância, estão os momentos em que ele me levou na garupa e eu tinha que segurar com ambas as mãos em sua testa, cuidando para não tapar-lhe os olhos. Lembro-me da sombra alongada que projetávamos enquanto ele caminhava; recordo até do cheiro de seus cabelos. Cheiro de meu pai.

Em sua oficina eu aprendi a esculpir barcos de madeira usando sargento, martelo e formão. Difícil era reunir paciência e esperar uns dias até que o verniz secasse. Com ele aprendi desde cedo a não ter medo de sapos e a pegá-los pela perninha e levar para outro lugar; em geral para acudir minha mãe que tinha pavor; no quintal havia mesmo “casas” de sapos: algumas telhas propositalmente deixadas junto à cerca, onde os sapos se refugiavam durante o dia.

Quando ele estava de ótimo humor, costumava me chamar de “Tcheco”. Ao ouvi-lo me chamar assim eu sabia que estava em alta no seu conceito. O porquê deste carinhoso apelido eu não sei.

Aprendi muitas coisas lhe ajudando: fazer ou reparar cercas, telhados, virar terra, plantar etc. Uma vez, usamos nossas férias, minhas e dele, para reformar uma casa que ele havia comprado.

Mas nem tudo era um mar de rosas; pais também têm seus momentos de mau humor ou franca cólera. Ele costumava ficar um tanto irritado enquanto trabalhava, principalmente se tinha que fazer força; se alguma coisa dava errado ele “estourava” com o ajudante da vez; se acontecia de ser eu, deixava de ser “Tcheco” ou mesmo “Cezar” e virava “animal de teta”!"


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Um comentário:

Anônimo disse...

Animal de teta tempos lá na prêfa.