23 de junho de 2012

LAURO BACCA



"Rio+200 não dá


A revista Veja, uma das mais lidas no Brasil, tem, para Meio Ambiente, uma linha editorial que não é das mais simpáticas aos ambientalistas. Geralmente, tende a minimizar ou mesmo não reconhecer a gravidade da situação por que passa aquilo que poderíamos chamar de civilização humana global, além de tender a louvar a tecnologia pela tecnologia, como salvação de todos os males ecológicos do planeta. Mesmo assim, em sua edição da última semana, deixa a entender que algo de urgente precisa ser feito.

Um infográfico retrata três cenários para o ano de 2100, levando em conta a população mundial e o ritmo de consumo atual dos recursos. Pois bem: mesmo o mais otimista dos três cenários, que considera uma fecundidade baixa de 1,6 filhos por mulher, resultaria, até o fim do século, numa população diminuída dos atuais mais de 7 bilhões para 6 bilhões de habitantes – nível atingido em 1999. Ainda assim seriam necessários 1,2 planetas para atender as necessidades dessa gente, algumas delas, crianças de hoje que estarão vivas até lá. Esse é o cenário mais otimista de quem já tende a ver as coisas de forma otimista. Dá até receio de comentar o cenário oposto!

Nosso planeta e tudo o que nele foi feito de bom ou de ruim pela sociedade, capitalista, consumista ou não, é um pesado trem em velocidade crescente. Não é um ágil Neymar, que dribla e muda instantaneamente de direção sempre que precisa correr atrás da bola da sustentabilidade. Avistado um problema lá na frente, mesmo com os freios acionados ao máximo, a composição levará um tempão para parar. Fazer curvas ou guinadas rápidas, nem pensar. Esse trem planetário ainda é composto por vagões autônomos, alguns querendo continuar acelerando, outros sendo levados de arrasto, e poucos querendo acionar os freios.

Um grande mérito da reunião Rio+20 decorre do reconhecimento generalizado de que nosso planeta também é um barco sobrecarregado com excesso de passageiros e de carga, alguns ocupando muito mais espaço, tendo muito mais conforto e levando muito mais peso que outros. Por outro lado, outro mérito da Rio+20, aumenta a consciência de que nosso sobrecarregado, injusto e único barco disponível, está furado.

Apesar desses fatos já sabidos antes e evidenciados na Eco 92, fica-se discutindo muito tempo para ver como, quando e quem deve tapar os furos, quem deve tapar os rombos maiores e quem vai cuidar dos buracos menores. Enquanto isso, nosso barco vai vertendo água por baixo, ao mesmo tempo que recebe mais e mais carga por cima. Por isso, concordo com Roberto Smeraldi (“O Estado de São Paulo”, 18/6): “tudo pode mudar, claro, mas a Rio+20, por enquanto, parece mais ponto de chegada tardia das políticas do Século 20 que de partida estratégica daquelas do século 21”.

autorizado pelo autor.
também publicado em: http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,186,3799628,19861

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