16 de junho de 2012

LAURO BACCA



"Reservas públicas ou privadas?


Ainda no rastro das oportunas e belas matérias sobre o Parque Nacional da Serra do Itajaí (Santa, 2 a 6/ de junho), houve quem questionou se essas áreas deveriam ser públicas ou privadas. A primeira tendência das pessoas seria a defesa da preservação na iniciativa privada, dada a notória deficiência e mesmo ineficiência gestora do poder público nessas questões. Isso foi muito discutido quando do polêmico período que precedeu a criação do nosso Parque Nacional, entre os anos de 2002 e 2004.

Aos poucos, ainda que aos trancos e barrancos tipicamente tupiniquins, vamos aprendendo mais sobre a proteção da biodiversidade, assunto ainda pouco conhecido do brasileiro, até pelo pouco empenho dos governos para priorizá-lo dentro dos programas de educação ambiental oficiais. A atual reunião Rio+20, certamente contribuirá para alguns importantes esclarecimentos sobre o tema.

As Áreas Protegidas, que no Brasil receberam o pomposo e pouco digerível nome de Unidades de Conservação (UC) são ferramentas indispensáveis quando o assunto é a proteção da biodiversidade. Parques Nacionais, Estações Ecológicas e Reservas Biológicas são exemplos de categorias de UC brasileiras. A formação de uma rede de UC’s nos diversos ecossistemas naturais brasileiros, bem como o estabelecimento do máximo possível de conectividade entre elas, atende aos quesitos da Convenção Internacional da Biodiversidade, da qual o Brasil é signatário.

Proteção


Proteger a biodiversidade não é tarefa fácil, requerendo a aplicação de complexos conhecimentos científicos que garantam a manutenção dos processos ecológicos essenciais. Para isso, as UC’s precisam abranger grandes extensões de terras, sem o que a proteção fica comprometida. A conectividade através de corredores ecológicos também é importante, para evitar que a flora e fauna das UC’s fiquem isoladas em ilhas, cercadas por atividades humanas por todos os lados. Mais ainda, devem ter caráter de perpetuidade, para poder levar adiante, por muitos séculos e milênios, um equilíbrio ecológico conquistado por tempo igual ou bem maior, num passado em que nem mesmo havia a presença de civilizações humanas na Terra.

O particular até consegue gerir UC melhor que o governo, mas o caráter de perpetuidade torna essa gestão temerária. Aqui mesmo na região, há exemplos de áreas preservadas particulares que foram magnificamente administradas, enquanto o proprietário tinha recursos ou estava vivo. Alguns faliram, outros morreram e então o caráter de perpetuidade da preservação privada foi por água abaixo. Portanto, quando se trata de grandes áreas e do caráter perpétuo da preservação, ruim com o governo, pior sem ele. Aos cidadãos e políticos conscientes compete, então, a pressão por uma melhor gestão governamental das áreas protegidas."

Autorizado pelo autor.
também publicado em: http://www.clicrbs.com.br/jsc/sc/impressa/4,186,3791992,19808

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