9 de junho de 2012

LAURO BACCA



"Memórias do Parque


Subi o morro Spitzkopf pela primeira vez em 12 e 13 de novembro de 1966, com colegas do 1º ano do curso Científico do então denominado Colégio Normal Pedro II de Blumenau, conduzidos pelo saudoso professor Lothar Krieck, precocemente falecido poucos anos depois. No sábado passado, subi o Spitzkopf pela 81ª vez, acompanhando o grupo da Acaprena. Alguns o faziam pela primeira vez, como eu, há 46 anos. Foi a partir das caminhadas ao local que passei a fascinar-me pelo esplendor e riqueza ecológica e paisagística da região, procurando conhecer de perto o máximo de seus segredos.

Pelo ar, sobrevoei a região em um teco-teco do Aeroclube de Blumenau muitas vezes. Num sobrevoo mais longo, em janeiro de 1979, foi possível uma visão mais abrangente do que estava acontecendo já há algum tempo: o cenário do imenso tapete verde de florestas nativas, que cobriam aquelas belíssimas montanhas intactas até o último metro quadrado, estava sendo dilacerado por inúmeros rasgões vermelho-amarelados de estradas madeireiras, que começavam a atingir toda a região, cabeceiras do Garcia inclusive. Nas cabeceiras do Encano, em Indaial, milhares de árvores nativas eram tombadas e queimadas para no seu lugar ser plantado o exótico pinus.

Não me conformava que tamanha estupidez pudesse estar acontecendo numa área de tanta fragilidade ambiental como aquela. Logo vieram à lembrança as enxurradas do Garcia, como a de 1961, que causou enorme destruição, danos materiais e vítimas fatais e a certeza de que, com o desmatamento, tudo isso iria se agravar. Sobre esse dilema, aprendi muito em diversas conversas com o empresário e conservacionista blumenauense Udo Schadrack, proprietário e ferrenho defensor das matas do morro Spitzkopf. No mesmo ano de 1979, Schadrack fazia publicar nos jornais “A Nação” e logo em seguida no Santa, o contundente artigo “Alarma”, no qual denunciava o início da devastação das cabeceiras do Garcia e os perigos que isso representava para a cidade.

Antes disso, junto com colegas estudantes de História Natural (Biologia) da Furb, Nélcio Lindner entre eles, apoiados pelos professores Alceu Longo e Marlene Lauterjung, fundávamos, em 5 de maio de 1973, a mais antiga ONG ambientalista do Estado, a Acaprena. Logo no primeiro ano, concluímos que as florestas que nos protegiam precisavam ser protegidas. Padre Raulino Reitz e o carioca Dr. Alceo Magnanini, do então IBDF, intermediado pelo professor Alceu, vieram dar os primeiros apoios e conhecer a luta de Udo Schadrack. Longos 31 anos depois, estava criado o Parque Nacional da Serra do Itajaí!

As reportagens do Santa desta semana mostraram com eloquência, apuro técnico e elegância, a importância e os desafios desse Parque. A que eu acrescentaria: sua implementação é tão ou mais importante quanto a duplicação da BR 470, mesmo que poucos se lembrem de reivindicar isso."

Autorizado pelo autor.
Também publicado em: http://www.santa.com.br/







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