18 de março de 2012

LAURO BACCA



"Caro Valther,
Lembramos muito de ti em Porto Alegre, pois sabemos que o assunto arborização pública, como tu mesmo dizes, é menina dos teus olhos. Rapaz, a cidade dá um “xou” de arborização pública, quando comparada com Blumenau! Mas nem sempre foi assim. Estudei lá em 1975 e acompanhei de perto boa parte da peleia, iniciada em 1971, que foi fazer com que os tecnocratas da prefeitura acabassem com a brutal poda da arborização pública todo início de inverno. Numa Porto Alegre que crescia e fervilhava, o clima era quase de guerra entre os ambientalistas e os tecnocratas municipais que não pensavam duas vezes antes de meter concreto no lugar do verde.

O estudante Carlos Dayrell, no desespero de não saber o que fazer ante o corte de mais uma fileira de árvores, num gesto impulsivo, galgou a próxima vítima das motosserras. “Só desço se garantirem que não cortam mais nada”, gritava, a estas alturas na companhia de mais um rapaz e uma moça. Formou-se uma multidão que apoiava o gesto histórico do estudante e inibia uma pronta ação policial, em pleno período de regime militar que reprimia qualquer manifestação de rua. Compareceram a imprensa e o grande líder ambientalista José Lutzenberger e o banzé estava feito.

Resumindo, o assunto ganhou destaque nacional, a fileira de 15 árvores foi salva e partir de então mudou completamente a política de arborização pública em Porto Alegre. Foi o fim de uma era de estupidez, de irracionalidade, do predomínio do corte e da poda brutal por qualquer motivo, contra o bem estar e a qualidade de vida dos cidadãos.

Por isso, Valther, lembrei-me muito de ti ao rever hoje as magníficas tipuanas salvas pelo estudante e sentir o alívio do intenso calor naquele maravilhoso corredor de sombra preservado da Avenida João Pessoa. Com emoção, contemplei aquela mesma árvore, imaginando os estudantes apoiados nos galhos ali em cima, enquanto os atônitos operários e o fiscal de obras não sabiam o que fazer com as motosserras. Olhei para o meio fio da avenida, quase imperceptivelmente curvado, servindo de testemunho silencioso do sutil desvio feito para salvar aquelas árvores há exatos 37 anos, sem qualquer prejuízo ao trânsito, o que demonstra quão estúpida fora a opção pelo corte, felizmente frustrada pelo Dayrell!

Aproveitamos, esposa e eu, para conhecer o fenomenal túnel de arborização da Rua Gonçalo de Carvalho, de Porto Alegre, já comentada por ti e pelo Cao aqui no Santa, depois te conto.

P. S. A volta a Blumenau foi como acordar de um sonho. Nossas árvores raras e mal cuidadas, a estúpida poda que acontece todos os invernos, o corte por qualquer motivo, o grande espaço vazio ainda sem uma substituta da figueira da prefeitura me fazem questionar: por que tanta dendrofobia no nosso paço municipal?"

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