18 de setembro de 2011

LAURO BACCA


"Margem Esquerda
Foi preciso a coragem visionária do Papa João Paulo II para a Igreja Católica redimir-se de um erro de 360 anos. O prefeito João Paulo foi bem mais ágil, apenas dois anos solicitando o diálogo com o Comitê da Bacia sobre a melhor forma de proteção da margem esquerda do Rio Itajaí-Açu, no Centro de Blumenau.

O mundo inteiro sempre aceitou a ideia de que a Terra era o centro não apenas do sistema solar – modéstia pouca é bobagem –, mas de todo o Universo. Até que Galileu Galilei confirma as teorias de Copérnico e ... bomba!, somos apenas um planetinha, num sistema solar insignificante, entre bilhões de estrelas de uma galáxia, em meio a trilhões de galáxias no Universo! Galileu quase parou na fogueira da Inquisição, mas a razão (Ciência) venceu a emoção e o geocentrismo é passado histórico.

Compreende-se que, por milhares de anos, as pessoas tenham acreditado ser o centro do Universo. Não havia o conhecimento científico. O que não dá para entender é que, com o atual conhecimento acumulado, ainda vivamos numa civilização caracterizada pela visão não mais geocêntrica, e sim antropocêntrica, onde nada mais importa a não ser os interesses imediatos do ser humano. Na ânsia de nos defendermos de uma natureza que consideramos inimiga, viramos inimigos de nós mesmos, atirando-nos na fogueira do desequilíbrio ecológico, cada vez mais evidente.

Ao longo do tempo avançamos alegre e irresponsavelmente sobre nossos rios, seus leitos primários e secundários. Quando o rio retoma uma pequena parte do que sempre foi dele, reclamamos, qual chamada na capa do Santa de sexta-feira, “Itajaí-Açu destrói parte da Prainha”. Quase ninguém percebe na foto da matéria uma camada superior vermelha no barranco ali erodido. Não foi o rio que colocou a camada vermelha, ainda um pouco delgada na foto, mas que se sabe é bem mais espessa logo acima: foram nossos aterros inconsequentes. Na nossa cegueira antropocêntrica, julgamos que podemos avançar sobre o rio, mas não admitimos em hipótese nenhuma que o rio avance ou recupere os espaços que ocupamos ou roubamos dele.

Não culpo ninguém por pensar ou agir assim. Não é fácil mudar uma cultura, muito menos toda uma visão civilizatória. Não concordo, porém, com a pecha atribuída aos “ambientalistas” (que termo mais genérico!) e muito menos ao Comitê da Bacia do Itajaí de que estão atrasando Blumenau. Os ambientalistas são os que mais se preocupam com o ser humano. No caso da margem esquerda, depois da enchente, mudei de opinião. Sou agora favorável à proposta da Jica, para que, no longo prazo, toda a margem esquerda seja desapropriada e transformada em área de lazer de uso público, uma espécie de Central Park rebaixado de Blumenau, com frente para o rio e acesso pela Rua Uruguai, na Ponta Aguda. Isso é possível e todos ganharão com isso. No mais, insistir em dragagem, barragem, macrodrenagem e proteção de margem sem Ecologia de Paisagem é bobagem."

Um comentário:

Anônimo disse...

No Santa de hoje consta o nome de uma pessoa, que 20 anos atrás deu a idéia junto ao CDL de Blumenau para que fosse feito um molhe no lado esquerdo. Deixar as coisas em ordem não dá voto. Somente promessas.