12 de setembro de 2011

CEZAR ZILLIG


"Insignes

Em princípios de 1937 um surto de “febre amarela silvestre” originado na Colômbia atravessou o território nacional vindo a alcançar o Vale do Itajaí. Acometia macacos e pessoas, tendo ocasionado dezenas de mortes, especialmente de lavradores obrigados a trabalhar nas proximidades de matas onde vivia o transmissor do vírus, um mosquito do gênero “Haemagogus”.

A epidemia era grave e preocupava o governo federal. Na condição de Delegado de Higiene, cabia ao Dr. Afonso Rabe colher fragmentos de fígado das pessoas que morriam apresentando determinados sintomas. Para tanto, o Dr. Rabe foi equipado com um instrumento especial, um tubo de aço inoxidável que permitia colher o material por meio de uma punção através da pele do abdome do morto (Biópsia percutânea). Em princípios de 1938 se confirmou o primeiro caso ocorrido num residente de Massaranduba. Imediatamente se deslocou do Rio de Janeiro para cá uma equipe do Serviço Nacional de Febre Amarela trazendo inclusive um biotério ambulante (camundongos brancos) utilizados para um constante controle da qualidade dos lotes de vacinas que vinham liofilizadas, em pó, e necessitavam ser acondicionadas em gelo. Tinham que ser reconstituídas na hora e, uma vez diluídas, deveriam ser aplicadas no mesmo dia, pois se desnaturavam passadas algumas horas.

Embora o assunto estivesse a cargo da equipe do Serviço Nacional de Febre Amarela, o Dr. Rabe e o Dr. Paulo Mayerle se apresentaram como voluntários; na ocasião foram vacinadas mais de 30 mil pessoas em apenas 15 dias!

As prefeituras forneciam a locomoção da equipe – automóveis ou peruas – sendo que numa oportunidade, por falta de lugar, os dois médicos tiveram que viajar da Fortaleza até Gaspar na “aranha” que o prefeito Schramm, de Gaspar, disponibilizou. Conta o Dr. Rabe: “Foi uma ultradivertida odisseia, durante a qual gargalhamos do princípio ao fim. Nenhum de nós dois jamais tinha manejado semelhante veículo. A mula, forte e bem tratada, pelo jeito conhecia bem o caminho e desandou a correr, brindando-nos com seus trejeitos intercalados com sonoras descargas gasosas e sólidas, em pleno galope..."


também publicado em www.santa.com.br

2 comentários:

Anônimo disse...

Outros tempos! Eles sabiam que juramento tinham feito!

Anônimo disse...

Conheci o Dr. Paulo Mayerle já bastante idoso. Foi grande médico no Hosp Santa Isabel. Seu filho, foi meu colega de faculdade, o agora grande advogado Fernando Mayerle. Já o prefeito Schramm de Gaspar, é avô de outro grande empresário do setor de fibras de Gaspar, o Odair Schramm. Grandes homens, belas memórias.