20 de março de 2013

LAURO BACCA


Coragem política

“Em toda a minha carreira política, foi a única coisa que funcionou melhor do que eu esperava”, declarou Ken Livingstone, o prefeito de Londres da época, 10 anos depois de ter tomado uma corajosa medida: a taxa de congestionamento de 7 libras, uma espécie de pedágio a carros que entrassem no centro da cidade. Lendo sobre isso, lembrei da nossa capital das polêmicas, Blumenau.


Até o entardecer de 17 de fevereiro de 2003, primeiro dia da novidade londrina, 57 mil proprietários de veículos tinham pago a taxa. A maior surpresa do prefeito foi de que nada deu errado. Ao contrário do que alguns esperavam, não houve uma corrida para entrar no centro antes das 7h, quando a medida entrou em vigor. Não ocorreram sequer pontos de congestionamento na periferia, onde o tráfego também fluía normalmente. O único problema que de fato houve foi que a circulação melhorou tanto que os ônibus tiveram que esperar alguns minutos nos pontos, para poder cumprir, britanicamente, o itinerário programado.

Na época, 30 outras cidades inglesas pensaram em fazer o mesmo, o que nunca ocorreu. Apenas a italiana Milão e Estocolmo, na Suécia, seguiram o exemplo. O prefeito Livingstone dá duas explicações para isso: covardia política ou cidades “modernas”, planejadas para o automóvel, que não precisariam dessa taxa. Cá entre nós, seria este o caso de Brasília ou Belo Horizonte? (Risos!)

E disse mais. “Se não fosse pelos republicanos, que controlam o parlamento em Nova York, poderiam fazer isso em Manhattan. O prefeito Bloomberg até que tentou, mas não conseguiu os votos que o autorizassem a implantar a medida. Já na britânica Manchester, os políticos ficaram tão medrosos que sugeriram um referendo popular antes de se decidirem pela taxa de congestionamento”.

“Se eu tivesse feito um referendo primeiro, eu teria dois anos e meio de polêmica na imprensa dizendo que a medida seria um desastre e jamais teria feito aquilo” (fortes campanhas, de fato, foram feitas contra a nova taxa).

“A covardia política sempre é um problema, os políticos sempre receiam perder votos, mas o que nossas cidades menos precisam é de covardia política”, arrematou.

Qualquer semelhança com Blumenau, cheia de problemas por resolver, principalmente os de ocupação inadequada do solo urbano, com gravíssimas consequências nas tragédias, seria mera coincidência?

autorizado pelo autor.
também publicado em: www.santa.com.br

Um comentário:

Anônimo disse...

Seria muita bem aplicado a maioria das cidades de hoje. Melhor ainda se fosse refeita a malha ferroviaria tambem. Precisamos de um mundo melhor.