11 de março de 2013

CEZAR ZILLIG


Reciclagem lato sensu

Caminhando na praia, recolhi um caco de vidro e mais adiante, fui depositá-lo numa manilha que fazia às vezes de lata de lixo. Sobre a tal lixeira havia um saco plástico todo enrolado dando a impressão de conter um peixe. Curioso, fui conferir: era sim um peixão de uns 40 centímetros. Bem acondicionado, não exalava odor algum. Como estava num trecho deserto da praia, resolvi alterar aquela situação e brindar as gaivotas ou os urubus com aquele petisco. A uma boa distância e a sotavento – exposto, principiou a cheirar, claro! – fiquei observando por um tempo.

Queria ver quanto duraria até que algum comensal descesse dos céus. Como passado um bom tempo não apareceu ninguém, fui-me embora.

Na caminhada do dia seguinte, ao me aproximar do local, lembrei-me do fato e fui examinar a situação, ver o que acontecera: a areia estava coberta por rastros de caranguejos-fantasma, também conhecidos por maria-farinha. Para maior comodidade, para ali se mudaram e fixaram residência em novos buracos feitos próximos ao peixe, ou melhor, onde estivera o peixe; dele encontrei apenas a espinha minuciosamente limpa.

O que aconteceu foi que em vez de ter ido parar no lixão, as proteínas do animal voltaram a participar da cadeia alimentar, incorporadas pelos caranguejos. Da perspectiva da natureza, aquele peixe morto não era, de maneira alguma, “lixo”.

No retorno da caminhada ocorreu-me que nós, com nossos variados rituais fúnebres, em geral nos furtamos em retornar à cadeia alimentar como programado pela natureza. Conosco acontece o que não permiti acontecer com o peixe enroladinho na sacola plástica. De certa forma frustramos o percurso natural ao não permitir que nossos corpinhos sejam incorporados por outros animais. De qualquer forma, acabamos por virar banquete das larvas ou dos micro-organismos. Isto quando não viramos diretamente fumaça e um cadinho de cinzas.

A vida natural é baseada num perfeito mecanismo de reciclagem, uma atividade essencial para se manter um “equilíbrio sustentável”, algo sobre o que muito se fala, mas poucos compreendem seu real significado.

Segundo Lavoisier, na natureza nada se perde; tudo se transforma. A cadeia alimentar é uma constante transferência de energia solar captada pelos vegetais, primeiro elo da cadeia.

Reciclar é complexo, mas é um dos pilares do equilíbrio ecológico. Blumenau sabe da importância em reciclar, quer reciclar, mas...




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