6 de março de 2013

LAURO BACCA


Restrições à ocupação

As recentes tragédias climáticas brasileiras e a chance de sua repetição evidenciaram que há limites claros quando se trata do uso e ocupação do solo, margens de rios e córregos, principalmente. Assim, diante da atual obrigatoriedade dos municípios aplicarem o Código Florestal dentro das áreas urbanas, abriu-se o berreiro geral. No caso de Blumenau, o clamor é de que a cidade se inviabilizaria, pois, com as novas metragens, as áreas destinadas a Áreas de Preservação Permanentes (APP) de margens de rios saltariam de 8% para 28% da área urbana.

O que causa espanto nessa incipiente discussão é o foco centrado apenas na questão econômica e imobiliária e a facilidade com que os próprios órgãos ambientais, bancando o advogado do diabo, aderem a esse foco. Ora, sem entrar no mérito da questão de metragens, pois essa discussão vai longe, as APPs na paisagem são como extintores de incêndio ou outro equipamento de prevenção qualquer. Quase nunca são usados, mas, se necessário, numa emergência, estão lá, diminuindo prejuízos, protegendo e salvando vidas.

No córrego Cuiabá, em Petrópolis (RJ), um vale parecido com tantos que temos em Blumenau, mais de 70% das edificações destruídas pela força das águas na tragédia climática de janeiro de 2011 e 95% das mortes ocorreram exatamente na faixa de 30 metros de APP de cada lado daquele curso d’água.

Para alguns, não avançar até o último centímetro das margens dos rios significa inviabilizar uma cidade. Não importa que esteja-se montando uma bomba relógio que nunca se sabe quando, onde, nem como vai explodir, o importante é o lucro cego e imediatista hoje, o futuro que se dane.

Restrições ambientais bem embasadas não podem ser encaradas como óbice ao “progresso”. Imagine o leitor se os 200 milhões de brasileiros morassem apenas na região Sul, da metade do Estado do Paraná para baixo e que 67 % desse apertado território fosse coberto de APPs de florestas nativas. Assim é o Japão, a terceira maior economia do mundo.

Os japoneses têm um dos mais altos graus de escolaridade do planeta. Eles sabem do valor que as árvores têm vivas, protegendo as encostas e que a ocupação do território, obviamente, envolve restrições. É uma pena que, para muitos de nós, árvores (leia-se natureza) só tenham valor quando cortadas e processadas numa serraria e que APPs só sirvam para vias marginais ou loteamentos.

AUTORIZADO PELO AUTOR.
TAMBÉM PUBLICADO EM:WWW.SANTA.COM.BR


Um comentário:

Anônimo disse...

Aqui em Pomaroda se derruba a "NATUREZA ORIGINAL" para dar lugar a plantação de pinus, eucalipto, palmeira real...........