MANOEL JOAQUIM DA BOSTA - XLII

Com os dias de sol a vida parece ressurgir e com muito mais esplendor. As pessoas, os animais, a flora, parecerem estar em constante desabrochar. Assim, também novamente foi avistada a charaka. Estava serpenteando pela pracinha ao norte, acompanhada de velha serpente muito conhecida no reino. Já eram vistas juntas em outras épocas. Após longo tempo, apartadas talvez por diferenças de ideais, novamente são vistas juntas. Passearam na praça como donos da mesma. Nunca foram vistas em outros tempos no local. A charaka deve estar com boa saúde, sendo que ainda com condições físicas ideais do ambiente, as cobras trocam a pele velha inteira de uma vez.Deve ser uma boa época para isso. Quem sabe com nova pele possa ser mais atrativa aos olhos da população, assim consiga uma melhor interação e com isso vida mais longa. Os dias de sol também são um alivio para os moradores da côrte, bem como, para aqueles que precisam sair das províncias e resolver algum assunto no local. Os dias de chuvas são um terror. As poças de água e a lama tomam conta. Simplesmente uma nojeira. Assim os interioranos trazem a sua solução caseira. Utilizam as suas velhas galochas da labuta diária para se proteger dessa situação. As galochas saem dos estábulos e das plantações e surgem no cotidiano da côrte. Com vasta utilidade as mesmas estão sendo um fervor de vendas junto aos secos e molhados. Ressurgem com todo tipo de cor e adereços. Muitos nobres e a maioria dos plebeus acreditam que também serão úteis no dia do plebiscito. Talvez sejam aproveitadas e velhos políticos incompetentes do reino poderão receber uma boa galochada na bunda. E assim quem sabe se livrarão definitivamente dessa esbórnia na política local. Também ao norte propriedades particulares são utilizadas para armazenar lixo. Alguns utilizam para desovar tudo aquilo que lhes é estorvo na sua casa. Mas após reclamação a situação já foi resolvida. Quem sempre tem a resolver é o Messias revoltoso. Foi chamado para prestar depoimento junto aos Milicianos do Reino. Querem lhe imputar o crime de falta de respeito com trabalhador do Paço Real. Depois de solicitar informações no Paço Real, não teve o seu pedido deferido e agora mais isso. Um depoimento testemunhal nessa fase é fácil, mas reafirmar junto ao Conselho Judiciário é outra história. As pernas poderão tremer, as palavras poderão sair embaralhadas e as calcinhas poderão borrar. Mas o Messias resolve os seus assuntos com tranqüilidade, tem sempre amigos o apoiando. Estava ciente do assunto com catorze dias de antecedência. Os panfletos distribuídos pelos plebeus, vulgos Repolhos Azedos batem recorde na acolhida e leitura. O Messias mentor dos mesmos encontra-se esfuziante com isso. No momento nada o abala. Não é o meu caso, me sinto desprestigiado. Espero que seja passageiro. Irei servir-me de um cuba Fidel libre e pegarei no arremesso os....ovos de codorna.

M. J. Da Bosta

Obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou acontecimentos reais terá sido mera coincidência.