21 de julho de 2012

LAURO BACCA

Fogo no governo, não no sofá!

As notícias e informações sobre a devastação dos ambientes naturais são recorrentes e assustadoras. Ambiente natural não é sinônimo de floresta densa, como muitos pensam. Também existem áreas naturais não florestais, como o pampa gaúcho, o pantanal matogrossense, vastas extensões do cerrado e da caatinga, lagos, lagoas e rios, dunas, restingas, regiões costeiras, o próprio oceano. Não vamos, porém, condenar o senso comum, por enfatizar as florestas. Elas são o tipo de ecossistema mais emblemático e de destruição mais evidente. Árvores que caem são visíveis, fazem barulho e a floresta some a olhos vistos.

Estudos científicos recentes demonstram que as consequências do desmatamento atual da floresta amazônica ainda vão se ampliar e repercutir nas próximas décadas, mesmo que esse desmatamento seja logo interrompido. É como se houvesse uma espécie de “dívida de extinção” a acontecer no futuro. Ou seja: desmata-se hoje, mas espécies poderão se extinguir daqui a 30 ou 40 anos! O desmatamento seria então uma espécie de veneno ambiental de efeito a longo prazo, repercutindo muito além do atual tombamento das árvores.

Apesar da batata quente que vamos jogar na mão das futuras gerações, os autores do estudo, no entanto, lembram que nem tudo está perdido e que a boa notícia é que temos tempo para agir e evitar que o pior desequilíbrio ecológico aconteça de fato. Para isso, além do controle do desmatamento, é fundamental a criação e ampliação das reservas naturais (Unidades de Conservação da Natureza, UCs), além da recuperação de áreas já degradadas, entre outras medidas.

Apesar dessa obviedade, não é de hoje que se percebe na sociedade uma grande resistência contra a criação de UCs da Natureza no Brasil. Até onde menos se espera, como na Câmara Técnica do Conselho Estadual do Meio Ambiente que discute políticas florestais para Santa Catarina, encontramos segmentos e profissionais, notadamente mais ligados à produção, florestal inclusive, que se posicionam contra essa indispensável forma de preservação. Expressam-se como que tendo “raiva” das UCs, por que, dizem, os Parques Nacionais e demais reservas não funcionam, os proprietários não são indenizados etc.

Dessa forma acabam agindo como o cônjuge traído que põe fogo no sofá, ao invés de lutar para que as UCs funcionem de fato. Quem merece ser “queimado”, obviamente, não é o sofá, e sim quem está nos traindo, no caso, o governo, que tem dinheiro, gasta mal e pouco aplica na preservação. O governo é o cônjuge que trai a sociedade, sua consorte, não cumprindo com suas promessas e obrigações internas e externas de proteção da natureza (Constituição Federal e Convenção Internacional da Biodiversidade, da qual o Brasil é signatário desde a reunião Rio 92, por exemplo) e não as Unidades de Conservação, que são o sofá.

Autorizado pelo autor.
também publicado em: www.santa.com.br


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