29 de julho de 2012

LAURO BACCA


  • Despachantes ambientais

    O Dia da Árvore na escola foi marcado pelo plantio da muda de pau-brasil. Cada aluno participou, ajudando a fechar a cova com uma colherada de terra. Nos dias seguintes, todos ajudaram a regar a jovem planta. A escolha da espécie de árvore não poderia ter sido melhor, pois, conta a história, foi dela que surgiu o nome definitivo de nosso país. O fato, ocorrido no distante ano de 1944, foi lembrado nesta semana por uma das que plantaram a árvore, a hoje idosa senhora Rita Zanela, em função da ameaça de corte, um despautério do qual a árvore escapou graças à rápida mobilização feita na internet pela professora Aline Naíssa Dada (Santa, 21 e 22 de julho).

    Aline, hoje uma jovem professora, fez parte de uma das inúmeras gerações de alunos que brincavam e lanchavam ao redor do pau-brasil da Escola Estadual Raulino Horn, de Indaial, até um tempo recente, em que as crianças tinham acesso à árvore, ao contrário do que ocorre hoje. Quase sete décadas e todo um cabedal de lembranças e simbolismos de várias gerações, porém, de nada valeram a partir do instante em que a ignóbil cegueira burocrática reduziu aquele pau-brasil a nada mais que um simples estorvo ao estacionamento de vans de transporte escolar e que, por isso, deveria incontinenti ser arrancado, vir impiedosamente abaixo.

    A tentativa de sentença de morte da árvore começou com uma autoridade estadual de educação (Educação?), que autorizou a obra municipal dentro da escola estadual. O órgão ambiental da cidade, que teria muito mais obrigação de analisar o caso em todos os seus aspectos antes de carimbar mecanicamente um papel, já tinha emitido a autorização de corte, felizmente não efetivado. Esse é apenas um exemplo de como boa parte dos órgãos ambientais municipais e até mesmo a Fatma Estadual se transformaram em meros carimbadores, despachantes ambientais.

    Os despachantes ambientais adoram licenciar e fiscalizar apenas seguindo regras. Fora isso pouco ou nada fazem, ou melhor, parecem fazer questão de nada fazer. Se entre suas atribuições consta a implementação da Educação Ambiental nas respectivas esferas de atuação, são esses despachantes os primeiros a não cumprir com os consagrados princípios e diretrizes dessa mesma Educação Ambiental, que pressupõe “envolvimento de valores, interesses, visões de mundo, abordagem de uma perspectiva crítica e transformadora dos desafios ambientais a serem enfrentados pelas atuais e futuras gerações”.

    Os despachantes ambientais, que pouco atuam na formação (interna e externa) de mentes críticas e transformadoras e tampouco “aprofundam o pensamento crítico-reflexivo mediante estudos científicos, socioeconômicos, políticos e históricos a partir da dimensão socioambiental ...”, parecem ter caído no agrado de muitos gestores públicos. Afinal, para que cérebros pensantes em autênticos órgãos ambientais se o que lhes basta são meros despachantes ambientais?

    Autorizado pelo autor.
    Também publicado em: www.santa.com.br
  • Um comentário:

    Anônimo disse...

    Isso é aqui em Pomerode?

    Se não for poderia ser!