10 de outubro de 2011

CEZAR ZILLIG



"SKIMBOARDERS

O embarque em Madri foi lento. O Airbus (340-600) acomoda nada menos que quatrocentos passageiros. Minha atenção foi sendo atraída para o jovem que se acomodava do outro lado do corredor: boné enterrado na cabeça, havaianas. Após interromper o acesso por um bom tempo, alojando volumes diversos, acomodou-se. Acomodou-se mesmo: reclinou todo o seu banco, ficou descalço e apoiou o pé entre as poltronas da frente provocando imediato protesto dos passageiros lá se instalados, incomodados com todos aqueles dedos roçando-lhes os cotovelos. Durante a longa viagem o rapaz se movimentava além do normal: mexia em suas coisas sob o banco, abria e fechava bagageiro acima, alheio ao que se passava ao derredor, absorto nas músicas que ouvia em seu fone de ouvidos. Alta madrugada acordei com ele de quatro pelo corredor procurando algo... seu boné. Minha avó diria que ele tinha o “bicho carpinteiro”; um hiperativo, enfim. De manhã, depois de servido o desjejum, faltando pouco para o pouso em Guarulhos, nova mexida em sacolas de onde saca um imenso laptop. O que aconteceria agora? Surge também um DVD ainda lacrado. Abre e bota para rodar. Pude assistir perfeitamente a seus vídeos: manobras de skate, todavia feitas nas ondas da arrebentação. Uma prancha maior do que um skate de rua e menor que uma de surf. O praticante vem correndo em direção às ondas, lança à prancha a frente, “embarca” e enfrenta a arrebentação. Assisti assim algumas competições internacionais; inclusive no Brasil. Consegui descobrir que o esporte, desconhecido para mim – e suponho que para a maioria dos leitores – chama-se “skimboarding”. Uma mistura de skate de rua e surf. Pelo que vi, o aproveitamento das ondas é superior ao do surf, pois toda onde serve, mas o decurso, o deleite, é curto. Os caras fazem misérias sobre a prancha. Notei que para tal prática, o ideal são as praias de tombo. Quanto mais “brabas” melhor.
Pouco antes da aterrisagem, puxei conversa. Revelou-se boa gente e se iluminou ao falar sobre seu esporte ainda em fase de introdução por aqui. Os praticantes estão mapeando as praias apropriadas. Recomendei-lhe dar uma olhada em Taquaras, na Interpraias. Ah, recomendei-lhe ainda ficar de olho em Balneário Camboriú, que tão logo seja “engordada” talvez venha a ser ótima para skimboarding e nada mais."


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