16 de outubro de 2011

LAURO BACCA


"Cegueira Ambiental
A crise ambiental, como sempre afirmamos, não será resolvida jamais com tecnologia, simplesmente por que não se trata de questão tecnológica e sim de questão filosófica. Valorizamos demais o que fazemos e construímos e, antropocêntricos, desprezamos o equilíbrio no mundo natural. Aplaudimos a ciência que comprova a importância da proteção da biodiversidade e louvamos o Criador pela maravilha das obras que fez, mas só da boca para fora. Fora dos laboratórios e dos templos, o massacre da natureza continua irracional e impiedosamente.

Quando se trata da natureza, muitos reclamam do rigor das leis ambientais mas ignoram que, sem a proteção das matas e dos solos das florestas, as enchentes ficam piores. Defendem que matas ciliares não combinam com áreas urbanas, mas esquecem que margens de rios costumam ser áreas de risco que não deveriam ser ocupadas.

Quando se trata de obra do homem sempre tem alguém para destacar que se não fosse a dragagem do canal dos portos de Itajaí e Navegantes a enchente teria sido pior. Mas ignoram o possível efeito contrário do estrangulamento provocado pelos molhes da barra, que avançam quase um quilômetros mar adentro. Clamamos por retificações que contribuiriam para o mais rápido escoamento das águas, mas ignoramos o poder destruidor das águas mais rápidas. Tampouco percebemos o represamento causado pelas rodovias, como a Jorge Lacerda, que impede que a enchente escoe pelas planícies abaixo de Gaspar, como aconteceu em 1911, ou a BR-470, que impede a livre derivação de parte das águas para o Rio Piçarras. Mapeamos as áreas atingidas por enchentes, mas permitimos construções térreas nessas mesmas áreas.

Suplicamos por desassoreamentos, mas não fazemos quase nada para impedir a erosão urbana e rural, origem do material que assoreia e ignoramos solenemente os altos impactos ambientais deste tipo de intervenção nos nossos rios. Gostamos de pescar e de apreciar belos panoramas, mas destruímos os ambientes aquáticos e outras formas da paisagem natural. Louvamos as barragens feitas pelo homem, mas destruímos as barragens naturais com nossos aterros inconsequentes. Reclamamos dos desbarrancamentos, mas ninguém reclama quando o rio deposita areia e demais sedimentos, aumentando nossos terrenos de fundos para os rios.

Não gostamos quando o rio se alarga, mas insistimos em ocupar as margens e estrangular todos os nossos cursos d’água com aterros, lixo e construções. E quando ele se alarga, torramos R$ 10 milhões a mais em uma obra para estreitá-lo de novo e sem mata ciliar - afinal quem é que disse que área urbana pode ter mata ciliar?

Definitivamente, se Carolus Linnaeus classificasse os seres vivos hoje, provavelmente identificaria nossa espécie como Homo pseudosapiens."

Também publicado em: www.santa.com.br

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