23 de outubro de 2011
LAURO BACCA
Erosão
Tendo trabalhado uns anos no Museu Fritz Müller de Blumenau, que faz fundos para o Itajaí-Açu, tive a oportunidade de observar por algum tempo de forma mais direta o comportamento do nosso rio maior. O falecido Seu José, antigo vizinho do museu, vendo as águas barrentas, comentava na sabedoria de sua simplicidade: pois é, Seu Lauro, hoje em dia basta São Pedro dar uma mijadinha lá na Reserva Indígena que o rio aqui logo fica assim, cheio e barrento desse jeito.
Ele tinha razão, e mais: qualquer enxurradinha no vale do Garcia ou da Velha mostravam as consequências no rio. Numa ocasião dessas, calculei 1.849 objetos que passaram boiando rio abaixo em uma hora. Se tudo isso era apenas a parte visível, o que não estaria o rio transportando abaixo da superfície? Quanto será que o rio transporta de material erodido?
Na enchente de 1984 tivemos uma ideia dessa erosão. Oito toneladas por segundo de material erodido passavam por Blumenau em direção ao mar. O montante equivale a um bom caminhão basculante por segundo, sem parar, enquanto a enchente durou. Novamente aí faltou a avaliação do que corria pelo fundo do rio, obviamente que muito mais.
Os dados da literatura técnico-científica são alarmantes: na floresta nativa preservada as chuvas conseguem arrancar e levar aos rios entre um e quatro quilos por hectare/ano, ou seja, praticamente nada. Basta explorar a madeira desta floresta que a erosão salta para 220 quilos anuais. Se é feita uma pastagem, aumenta para 700 quilos. Num cafezal, pode chegar a 1,1 mil quilos e num algodoal sem cuidados de conservação do solo, inimagináveis 38 mil quilos, o que, acredito, possa também ocorrer em algumas lavouras de fumo de nossa região.
Em recente artigo de revista eletrônica, o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos informa que 8,1 milhões de metros cúbicos por ano são erodidos só na região metropolitana de São Paulo. O que resulta no assoreamento da rede de drenagem natural e construída, entupindo os já estrangulados rios e córregos. Até os piscinões construídos para aliviar as enchentes são soterrados, tornando-os inúteis numa próxima enxurrada se não forem imediatamente livrados da areia, barro e lixo, ali acumulado.
Seu José estava certo em observar quão rápido o Itajaí ficava barrento. O que podemos aprender com tudo isso? Como sugeri na semana passada, somos o HOMO PSEUDOSAPIENS insistindo em tapar o sol com a peneira. Qual médico que aloprado recolhe o sangue ao invés de estancar a hemorragia, investimos uma fábula de dinheiro em obras contra enchentes, em drenagens urbanas e nos desassoreamentos. Entretanto, não fazemos nada para fechar e curar as feridas da paisagem urbana e rural, origem de toda essa hemorrágica erosão. Que tal uma meta de erosão zero semelhante aos programas de governos?
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Um comentário:
A EROSÃO é realmente um sério problema,mas ano caso de Pomerode o buraco é um pouco mais embaixo!A EROSÃO junto com as construções a beira do Rio Testo,avançando sobre as áreas que por lei são proibidas, como o pátio da Ramthum,do Posto União dentre outros,a falta de manutenção das bocas de lobo(tipica obra que o governo não faz questão de fazer, pois ninguém vê e não dá para colocar placa nem inaugurar),o povo que ainda joga detritos no rio etc...
Enquanto não tomarmos consciência em todos os níveis da sociedade,as enchentes continuaram sendo sempre um fantasma a nos assombrar.
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