7 de abril de 2012

LAURO BACCA



"A triste lua cheia da Páscoa
Adoro lua cheia! Sempre que posso, apago todas as luzes da casa e, protegido da iluminação urbana, passeio ao puro luar. No semissilêncio da noite, aprecio os nítidos desenhos das sombras das árvores projetadas na relva magicamente prateada. Na borda da mata, sob a claridade que permite ver e não ver ao mesmo tempo, arrepio-me com uma certa sensação de medo ancestral que deve estar impregnado bem forte nos nossos genes de autodefesa contra os perigos do ambiente.

Não gosto, porém, da lua cheia da Semana Santa! Não, leitor, nada a ver com a milenar tradição judaico-cristã e toda a sua simbologia, já lembradas por Anamaria Kovács e Ivo Theis (Santa, 4 e 5 de abril). É que essa lua me evoca um tenebroso hábito que, ao contrário de outros que desvanecem com o passar do tempo e das gerações, teima em persistir. Como diz o “Seu” Artur dos Santos, profundo conhecedor das matas e dos hábitos de boa parcela de nossa gente: “se não começa na Sexta-Feira Santa, começa o mais tardar no feriado de primeiro de maio ...”, referindo-se à prática da caça em nossa região.

Cinco tristes constatações: 1) o hábito da caça não acabou aqui no Vale; 2) a geração jovem está voltando a caçar; 3) restaram apenas 7% da área original da floresta e menos de 2% da quantidade da fauna original da Mata Atlântica do Brasil. Matar ou capturar esse pouco que sobra, não importa o motivo, não passa de um repugnante e criminoso massacre; 4) a Polícia Ambiental, que deveria impedir esses crimes, está esfacelada desde o governo LHS, que parecia odiar o meio ambiente; 5) os órgãos ambientais locais (municipais), via de regra, não estão nem aí para com esse problema.

Com os controles e a educação ambiental ausentes ou omissos, jovens e até quase crianças de sétima ou oitava série voltaram a caçar. Isso é muito grave, pois tratam-se de verdadeiros assassinos ecológicos impunemente soltos por aí, aprendizes da contravenção e do crime. Dentro da mata, atira-se para tudo quanto é lado, mata-se qualquer coisa que se mexe, armam-se armadilhas perigosas de todos os tipos. Um único grupo desses exterminadores, segundo soube recentemente, voltou de uma caçada num fim de semana com dezenas de aves, sete quatis e um veado mortos. E ninguém faz nada.

Já ouvi chefe de meio ambiente de município vizinho criticar nosso Parque Nacional por fiscalização insuficiente, mas não se percebe a menor iniciativa desses setores municipais uma mera tentativa de conscientização ou advertência que seja, para ajudar a impedir tão danoso quanto bárbaro costume, inconcebível nos dias atuais. A omissão reina absoluta enquanto o massacre de nossa já depauperada fauna continua. Anamaria Kovács lamentou uma tradição que desaparece. Eu lamento (profundamente) uma que persiste. Triste lua cheia da Páscoa!"


autorizado pelo autor.
também publicado em: www.santa.com.br

4 comentários:

Anônimo disse...

Serve direitinho para a nossa Pomerode.

Anônimo disse...

Omissão em Pomerode,árvores cortadas sem nenhum respeito,nosso rio esgoto puro,animais sem nenhuma proteção de seus direitos.Realmente é muito triste ver descaso de todos em relação ao nosso meio ambiente.

Anônimo disse...

Aí o Arno Muller ainda diz que os munícipios deveriam ter o controle ambiental nas mãos. Refere-se não somente as proibições, com também as liberações.

Ai! Ai!

Anônimo disse...

É Bacca. O planeta já era...