28 de abril de 2012


  • LAURO BACCA

  • Defaunação (2)

    Você sobrevoa uma cidade de avião e se encanta com a beleza vista de cima. Visitando por terra, encontra uma cidade vazia, quase morta, a maioria dos seus poucos habitantes aparentando velhice, apatia, sinais de degeneração, poucos jovens e crianças, nada de pujança econômica, social ou cultural, enfim, um ambiente de decadência e tristeza, bem diferente da ilusória visão obtida do alto.

    É mais ou menos assim que estão nossas florestas tropicais, que sofrem com o que os cientistas costumaram chamar de síndrome de florestas vazias. A mata aparenta ser linda e exuberante para quem olha de longe, mas, sua fauna está reduzida ou ausente. A flora, por falta dos bichos, começa a apresentar visíveis sinais de alterações e desequilíbrios.

    O grupo das palmeiras, incluindo os coqueiros, palmitos, indaiás, estão entre as mais importantes fontes de alimento para a fauna. Só que seus frutos são relativamente grandes, quando comparados com a maioria dos frutos da floresta nativa e caem direto, amontoando-se no solo junto da planta-mãe. Frutos grandes ou pesados dependem da fauna para serem dispersados, transportados para longe.

    As aves já podem começar esse serviço lá no cacho, mas mesmo assim a quantidade de frutos acumulados no chão é enorme. Se um veado ou porco-do-mato mordiscar uns frutos colhidos no solo e cuspi-los logo adiante sem engolir, ele já estará ajudando a dispersar a semente nas proximidades da sua origem. Se ele engole e defeca horas ou dias depois, estará dispersando sementes bem mais longe. Uma cutia que “esquece” onde armazenou a semente para roê-la mais tarde, idem. São exemplos de como a fauna silvestre ajuda a “semear” as espécies nativas, aumentando as chances de sucesso reprodutivo.

    Em florestas fragmentadas e onde ocorre caça sem controle, portanto predatória e destruidora, a redução na riqueza da fauna diminui as taxas, distâncias e proporções de sementes dispersadas. Com o tempo, a distribuição espacial das espécies de plantas também fica afetada. Algumas se tornam raras, outras ficam mais abundantes, ocorrendo também aglomerações de plantas da mesma espécie aqui e acolá, o que não costuma ser normal numa floresta tropical equilibrada, onde a diversidade de espécies animais e vegetais é regra geral. A aglomeração faz com que os bichos desloquem-se menos, reforçando, com o tempo, aglomerações ainda maiores das plantas, num círculo vicioso.

    Em florestas com pouca fauna, há uma menor predação de sementes por roedores. Seria uma notícia boa para as plantas, não fosse o fato dessas concentrações de sementes atraírem insetos do grupo dos besouros-broca que acabam destruindo mais sementes do que qualquer mamífero. Como se vê, equilíbrio ecológico é coisa complicada demais para ser caneteado por deputados e senadores que teimam em não ouvir os cientistas."
  • também publicado em http://www.santa.com.br/
  • autorizado pelo autor.

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