29 de outubro de 2011

LAURO BACCA



Condomínio aberto e injusto
A opinião da RBS, no Santa do último fim de semana, Sete Bilhões e uma Casa, lembrou-me de livros como Uma Terra Somente, de Barbara Ward e René Dubos, de 1973; A Casa do Homem, de Barbara Ward, de 1976; ou Terra - Um Planeta Inabitável?, de Hans Liebmann, 1979; só para ficar em três antigos títulos parecidos e sem mencionar uma espécie de bíblia da questão ambiental que foi o Limites do Crescimento, de 1971.

Quarenta anos depois, na palestra de abertura do 2º. Workshop Internacional do Senai sobre Sustentabilidade Ambiental e Têxtil aqui em Blumenau, o renomado jornalista Washington Novaes assustou a plateia com dados e números inquietantes, que corroboram o que sempre digo: nosso planeta não nos aguenta mais. Continuamos a crescer em população e pior, em consumo desmedido dos recursos naturais. Pior ainda, de forma socialmente injusta, gritantemente desigual.

A minoria consumidora já está esgotando o planeta; imagina quando a maioria pobre ascender, com todo o direito, à atual esbórnia consumista dos não pobres. Precisaríamos de no mínimo uns três ou quatro planetas para suprir nossa fome insaciável de Homo pseudosapiens, mas, como todos sabem, temos “Uma Terra Somente”.

Nesta segunda feira, 31, o condomínio Terra atingirá a casa dos 7 bilhões de moradores, que terão de continuar com a obrigação não apenas de dividir melhor os recursos entre si, mas também de conservar a estrutura de equilíbrio do condomínio que são as milhões de outras espécies que, como nós, os pseudosapiens, têm igual direito de continuar sobrevivendo no planeta.

Tínhamos atingido os 6 bilhões em 12 de outubro de 1999. Em apenas 12 anos e 19 dias recebemos mais um bilhão de novos condôminos. Doze anos antes já tínhamos recebido outro bilhão,13 anos antes outro bilhão e 14 anos antes mais outro. Partimos assim de 3 bilhões em 1960 para os atuais 7 bilhões, mais que o dobro, em apenas 50 anos. O gigantesco condomínio de 149 milhões de quilômetros de terras emersas já está pequeno. Dois terços dele, ainda por cima, são ruins para se viver, são, digamos, insalubres: desérticos demais, montanhosos demais ou frios demais.

Quando você, leitor, olhar para uma criança na rua com 12 anos ou menos, lembre-se que foi necessário cada um de nós cedermos a essa faixa etária, nada menos que 3,3 mil metros quadrados da área ideal anterior ao último bilhão de novos condôminos. Para acomodar todos os que estão abaixo dos 50 anos, a diminuição da área útil foi da ordem de 9,1 mil metros quadrados. Até 2050 teremos que ceder mais 8,4 mil metros aos bilhões que passarão a residir no condomínio. Não resta dúvida de que estamos diante do maior desafio de toda a história humana: como transformar o condomínio aberto em fechado, com justiça e sustentabilidade e respeito à todas as formas de vida que não apenas a do H. pseudosapiens?


também publicado em: www.santa.com.br

Um comentário:

Dr.Smith disse...

O Sr.Lauro Bacca sempre tentando nos abrir os olhos para os problemas de não preservarmos a natureza.
Pena que atira pérolas aos porcos pois nossos governantes fazem ouvidos moucos aos apelos.
Vide Testo Alto,alvarás para construções à beira de rios,esgotos a céu aberto,etc...
Neste condomínio quem deve mandar são os moradores e não apenas o sindico!