CEZAR ZILLIG

JOAQUIM, O CARA!

“Temos partidos de mentirinha. Nós não nos identificamos com partidos que nos representam no Congresso. Nem tampouco esses partidos e seus lideres tem interesse em ter consistência programática ou ideológica. Querem o poder pelo poder”.

Excetuando-se a casta política, esta é uma verdade inconteste e reconhecida em todo o país. Porém, quando proferida por reles populares, seres em geral destituídos de valor e apreço, é uma verdade inócua, inofensiva, não causa comoção alguma. A chocante novidade é que agora umas verdades foram ditas por um proeminente, por ninguém menos que o Presidente do Supremo Tribunal Federal, o Ministro Joaquim Barbosa.

Ao desrespeitar as hipócritas regras do “politicamente correto” o Ministro teria cometido um verdadeiro sacrilégio ao verbalizar verdades embaraçosas, desagradáveis ao paladar de quem vive de política. Sua ousadia tem lhe rendido criticas acerbas, inclusive por parte da mídia.

No promíscuo e alienado meio político não é de bom tom apontar com o dedo práticas espúrias destinadas a acomodar interesses pessoais da politicalha. Na melíflua etiqueta politiqueira o usual são os tapinhas nas costas, o riso fácil, o cinismo, a matreirice; demonstrar indignação, como o Ministro tem freqüente demonstrado, é tido como falta de tato, falta de “diplomacia”, falta de polidez. Para os mais mimados, a verdade dita na cara é tido como grosseria. No jet set politiqueiro o bonito é dar o tapa e esconder a mão. 

O povo brasileiro está carente de brio, tão domesticado foi pelas falas macias dos políticos vitalícios, profissionais do voto, que estranha quando alguém investido de poder cerra o cenho e diz uma verdade nua e crua. O brasileiro se importa mais com a forma que com o conteúdo. Ora, uma VERDADE dita em alto e bom som não pode causar uma crise institucional.

O Brasil está falto de homens como Joaquim Barbosa; homens (e mulheres!) capazes de se exasperarem ante ignomínias, locupletações, artifícios dos cargos supérfluos para acomodarem figurinhas premiadas (29 partidos políticos, 39 instituições com “status” de ministério!)

Como ninguém é perfeito, certamente nem o Ministro Barbosa o seja, mas suas qualidades são visíveis e são qualidades raras. Seria salutar se este seu estilo bronco contaminasse bom número de homens públicos, homens com educação de berço, incapazes de contumaz fingimento. 

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