10 de dezembro de 2011
LAURO BACCA
"Verdades mentirosas
O filósofo alemão A. Schopenhauer chegou à conclusão de que, num debate, os bons argumentos não precisam ser os melhores ou mais verdadeiros. Demonstrar convicção e bem apresentá-los acaba sendo mais importante do que estar com a tese certa. Igualmente, se alguém quer vender um produto ou ideia, não importa sua qualidade, o que importa é saber vendê-los bem. Já seu colega norteamericano David L. Smith concluiu que os políticos são mentirosos profissionais habilidosos que têm consciência disso. Mentem para se dar bem e quando acreditam na própria mentira, seu poder de persuasão se torna incrivelmente maior.
Essas conclusões servem perfeitamente ao atual debate sobre o Código Florestal Brasileiro, assunto aqui abordado na semana passada (a carta aberta, esquecemos de nomear no artigo anterior, foi dirigida à Senadora ruralista Kátia Abreu). Os argumentos de alguns políticos soam tão convincentes que todos acreditam, ninguém confere e a matéria passa.
É o caso do deputado federal catarinense que percorreu todo o estado defendendo teses contra o código florestal. Os raros que o ouviram com o botão do discernimento ligado sabiam da fragilidade dos argumentos, mas que, apresentados de forma convincente, fizeram a cabeça da maioria. “Se dentro do lote do agricultor existir dois córregos ao longo do comprimento do terreno, ele não vai poder fazer nada, pois praticamente tudo será APP (Área de Preservação Permanente)”, prega o deputado.
Diante da plateia já predisposta a ouvir este tipo de argumento, o convencimento é total, pois bastava fazer a conta: se a lei exige 30 metros de cada lado do córrego, isso dá 60 metros; como são dois córregos, temos um total de 120 metros de APP. Somado ao que deve ser preservado em topos de morro, ao redor das nascentes, realmente, não sobraria mais espaço nenhum para o agricultor plantar e todos saem dali acreditando que a lei ambiental é um verdadeiro absurdo, um disparate sem sentido, inviabilizando a agricultura de um modo geral.
O que ninguém confere e o político-bom-orador omite ou ignora são os dados estatísticos de QUANTAS propriedades encaixam-se no perfil exemplificado no hábil discurso e que teriam a atividade agrícola realmente inviabilizada em função das leis ambientais.
Esse exemplo demonstra como os bons discursos convencem, mesmo com argumentos tão frágeis. Os que tentaram contra-argumentar com fatos concretos e científicos, sem a cara de pau e retórica oca de muitos políticos, simplesmente não foram ouvidos. Tiveram os argumentos atropelados pelas grandes máquinas colheitadeiras do interesse agrícola pelo interesse agrícola. E assim a vida segue, o agronegócio feliz da vida com suas conquistas e a sociedade continuando sua caminhada, rumo a um futuro que pode ser desastroso."
Também publicado em: www.santa.com.br
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário