19 de dezembro de 2011

CEZAR ZILLIG



Palmada não?
Não, palmada, não. Ora, num país onde grassa a impunidade, o estalo de uma palmada bem aplicada num pirralho que sapateia e faz birra é uma tremenda nota dissonante. Num país onde 92% dos assassinatos (estado do Rio) permanecem insolúveis e decorrem décadas até que penalidades pífias sejam decretadas, é justo aplicar uma pena assim tão instantânea e inapelável nos pequenos cidadãos que perturbam a ordem doméstica? Claro que não.

Os augustos representantes da sociedade, nada mais importante tendo a fazer, se aprestam para cometer mais esta “criminilização”: a da palmada (no momento, tal postura parece render votos). Ou, receiem talvez que menores nutram mágoas por constatarem que só eles são punidos enquanto tudo mais ao seu redor se dá em meio a plena e cabal impunidade, e tudo devidamente dentro da lei? Sim, a prática da palmada, embora em franca decadência, representa uma contradição num país que cultiva a impunidade.

Por outro lado, considerando-se que até atingir a idade adulta o mais rematado marmanjo é tratado como uma vaca sagrada, legalmente intocável, blindado contra os rigores – eventuais – da lei, com direitos inquestionáveis, desde cuspir na cara de pais e professores até cometer assassinatos em série, a hipótese de dar-lhes uma bofetada se tornou de fato um paradoxo.

Como produzir leis que vão diretamente contra os interesses da porção sadia da sociedade é o tipo de trabalho que o Congresso Nacional se esmera em produzir, o banimento da palmada se enquadra perfeitamente. Demagogia, hipocrisia, teatro, é com ele mesmo.

A palmada simboliza um tipo de educação em franco desuso. Uma educação que ensinava respeito aos mais velhos, aos pais, aos mestres, aos circunstantes enfim.

É necessário dizer que nesta questão a sociedade vem se intimidando, se negando a declarar que o rei está nu. Não é de bom tom defender a palmada. De repente, todos passaram a ver um mal maior num prosaico peteleco. Ninguém se rebela em ver que lhe usurpam parte do poder pátrio. Receando passar por truculento, bárbaro, antiquado, poucos têm peito de vir a público e acusar que se faz tempestade em copo d’água.

Eu e os da minha geração fomos agraciados, vez por outra, com sopapos, puxões de orelha, sovas. Ao menos da minha parte admito: geralmente bem aplicados, pois vez ou outra eu era dose!"


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4 comentários:

antonio disse...

Pelo andar da carruagem, quando um safado estiver dentro de minha casa, para roubar ou estiver estuprando minha mulher ou minha filha, terei que perguntar com toda educação , você é de menor????
Nosso país não é um pais sério, mas tenham certeza ficará pior.

Charmaine disse...

Um primor este artigo do Zillig! Parabéns por mais esta contribuição de uma lucides ímpar!

Anônimo disse...

Mas vejam só quem aprovou...nossos digníficos representantes que recebem belos vencimentos e que têm a oportunidade de contratar excelentes governantes, empregadas, babás, super nanys, ou seja, não sabem o que é conviver e educar...então fica fácil né...

Anônimo disse...

Eu tenho conhecimento de um pai que foi levado ao judiciário pelo Conselho Tutelar, por causa de um castigo aplicado ao filho.O pai não se intimidou:falou em alto e bom tom, que se o Juiz e o Promotor assinassem um documento se responsabilizando acaso o filho se tornasse um marginal no futuro, deixaria de cuidar de sua educação à sua maneira,como ele foi educado e se tornou um cidadão.O bom senso prevaleceu o aquele senhor foi em paz para casa.