MANOEL JOAQUIM DA BOSTA - LXIV

Novamente os sinos ecoam. Dim dim dim, dim dim dim, dim dim dim, e assim o soar se espalha por essas terras. Trás o sonho da esperança, da mudança, que poderá estar perto de se concretizar. Mas as dificuldades serão grandes no ano vindouro. O Presidente terá muito para fazer, principalmente o que acertar. Acertar as contas será o passo inicial. A situação do Tesouro Nacional está preta. Os muitos anos de má gestão, do dim dim espoliado do suor dos trabalhadores, bem como a complacência da monarquia, com os seus beliscantes, dilapidou os cofres públicos. Aqueles que se conclamavam como os melhores administradores, que essas terras haviam de ter, e de fazer, desmoronaram. Não é por menos, que somente um do Conselho Legislativo conseguiu a sua reeleição. Não legislaram e muito menos fiscalizaram. E assim aproveitaram a última sessão do ano, para despedidas e mais despedidas, alguns elencaram o que fizeram tudo pelo povo. Mas nada se vê nada se sente. Para um membro do conselho, o ano fecha mais melancólico ainda. Além de não conseguir a sua reeleição, quando teve a oportunidade como Presidente da casa, de mostrar um bom trabalho, não conseguiu segurar com firmeza as chaves do cofre na mão, e assim no fechar do ano é condenado por improbidade administrativa. Que isso sirva de exemplo para os novos que começam na vida legislativa. Os servidores públicos após mais de décadas, ficam sem o seu frango e sua barrinha de chocolate para a noite de natal. Assim não sabem o que acompanhará a farofa. Também sem o cacau não terá sobremesa. Isso demonstra que o cacau sumiu dos cofres públicos. Que fim melancólico e funesto daqueles que tinham a soberba como norma. Quem deveria marchar de volta à caserna são os soldadinhos de madeira. Não agradam de forma alguma o povo dessas terras. Como também não agradam os poucos lampiões a iluminar as noites natalinas. Espera-se que o ano vindouro traga tudo aquilo que a população deseja. Deseja que os políticos sejam honestos e não somente se façam de honestos. Deseja que a administração seja para o bem comum, e não somente para os mais chegados. Deseja que o progresso retorne, e aqueles que atravancam isso, que sejam despojados dos seus cargos. Quem está comemorando é o Messias revoltoso. A distribuição dos panfletos, alcançam, marca de quinhentos mil. Nunca antes um simples panfleto é tão esperado e lido. Teve grande influência para a conquista dos republicanos. Mas é deixado à margem do processo de transição. Como os anteriores, preferem passar informações para os jornais. Muitas vezes pagas para sair a contento. Os republicanos devem se cuidar. O povo espera uma administração transparente, e que não seja gasto muito dim dim com os semanários e quinzenários existentes. A palavra de ordem com certeza deverá ser cautela. Também que sejam humildes nessa empreitada. Senão daqui a quatro anos a tentativa de reeleição poderá ser desastrosa. Enfim, que todas as pessoas dessas terras maravilhosas e gentis, tenham um feliz natal e próspero ano novo. Irei iniciar as comemorações, me servirei de uns...ovos de codorna.

M. J. Da Bosta

Obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, pessoas ou acontecimentos reais terá sido mera coincidência.