DECISÃO DE NATAL
Ao poeta
LINDOLF BELL
Ao acordar, lembrou: 24 de dezembro! O grande dia. O dia pelo qual
espera o ano todo. Todos os anos. Neste dia, parece, depender só dele a
felicidade de todo o planeta.
As pessoas, as crianças, estão cada vez mais difíceis de serem contentadas.
Antigamente bastava uma boneca de pano, uma bola, um carrinho de madeira, para
exultarem de alegria. O velho sente saudades daqueles dias onde tinha o que
fazer durante o ano todo fabricando os presentes que distribuía no grande dia,
mas hoje... qual nada. As linhas de montagem roubaram sua ocupação. Hoje ele
depende dos grandes fabricantes, das marcas e griffes famosas para proporcionar
alegria. Alguma alegria.
Era com sentimentos confusos assim que o pobre velhinho ia enchendo seu saco!
"Será que nestes anos todos, que já se somam em séculos, não estive errado?
Desejando trazer a felicidade através de bens materiais, supondo que o TER é
mais importante que o SER?"
À medida que refletia, ensacava os objetos com lentidão cada vez maior, até que
se deteve por completo.
"Nestes dias de consumo insaciável, a felicidade que por acaso
proporciono, geralmente se extingue com as luzes das festividades”. Enquanto
assim refletia, eis que de sua memória centenária vem-lhe o verso do poeta:
“menor que meu sonho não posso ser!"
"É isto!” pensou! "As pessoas estão fazendo sonhos impossíveis! A
felicidade consiste em realizar sonhos. Desavisados e sitiados por propaganda implacável
a sugerir-lhes bens e consumo, sonham sonhos equivocados; absurdos alguns,
irrealizáveis outros. Quando resultam menores que seus sonhos se tornam
infelizes! Sim, o mundo hoje comporta infelizes demais. Há que se fazer algo e
urgente!"
Angustiado com tais pensamentos o velho se levantou, virou seu saco de boca
para baixo e sacudi-o despejando o que já tinha juntado. Foi à biblioteca e de
lá retirou todos os livros de poesia que encontrou - e não eram poucos! Havia
poetas de todos os países e de todas as épocas e com eles foi enchendo o seu
saco com uma alegria crescente, pois estava cada vez mais convicto que tinha
tomado uma decisão acertada: "O que este mundo precisa é de poesia.
Poesia, literatura feita com a alma”.
Cezar Zillig
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