24 de dezembro de 2012

CEZAR ZILLIG


DECISÃO DE NATAL

                                                                                        Ao poeta LINDOLF BELL 

Ao acordar, lembrou: 24 de dezembro! O grande dia. O dia pelo qual espera o ano todo. Todos os anos. Neste dia, parece, depender só dele a felicidade de todo o planeta.

As pessoas, as crianças, estão cada vez mais difíceis de serem contentadas. Antigamente bastava uma boneca de pano, uma bola, um carrinho de madeira, para exultarem de alegria. O velho sente saudades daqueles dias onde tinha o que fazer durante o ano todo fabricando os presentes que distribuía no grande dia, mas hoje... qual nada. As linhas de montagem roubaram sua ocupação. Hoje ele depende dos grandes fabricantes, das marcas e griffes famosas para proporcionar alegria. Alguma alegria.
Era com sentimentos confusos assim que o pobre velhinho ia enchendo seu saco! "Será que nestes anos todos, que já se somam em séculos, não estive errado? Desejando trazer a felicidade através de bens materiais, supondo que o TER é mais importante que o SER?"
À medida que refletia, ensacava os objetos com lentidão cada vez maior, até que se deteve por completo.
"Nestes dias de consumo insaciável, a felicidade que por acaso proporciono, geralmente se extingue com as luzes das festividades”. Enquanto assim refletia, eis que de sua memória centenária vem-lhe o verso do poeta: “menor que meu sonho não posso ser!"
"É isto!” pensou! "As pessoas estão fazendo sonhos impossíveis! A felicidade consiste em realizar sonhos. Desavisados e sitiados por propaganda implacável a sugerir-lhes bens e consumo, sonham sonhos equivocados; absurdos alguns, irrealizáveis outros. Quando resultam menores que seus sonhos se tornam infelizes! Sim, o mundo hoje comporta infelizes demais. Há que se fazer algo e urgente!"
Angustiado com tais pensamentos o velho se levantou, virou seu saco de boca para baixo e sacudi-o despejando o que já tinha juntado. Foi à biblioteca e de lá retirou todos os livros de poesia que encontrou - e não eram poucos! Havia poetas de todos os países e de todas as épocas e com eles foi enchendo o seu saco com uma alegria crescente, pois estava cada vez mais convicto que tinha tomado uma decisão acertada: "O que este mundo precisa é de poesia. Poesia, literatura feita com a alma”. 

Cezar Zillig 

ENVIADO POR E-MAIL
TAMBÉM PUBLICADO EM: WWW.SANTA.COM.BR


Nenhum comentário: