6 de agosto de 2012

CEZAR ZILLIG


"Boca fechada

A página emoldurada por fotos de modelos da Top 10 Fashion Rio evocam um assunto que há muito me ocorre e justifica um comentário: todas as modelos, deste ou de qualquer desfile, exibem a mesma expressão especialmente estudada, convencionada para elas: olhar mortiço, fixo no horizonte e a boquinha rigorosamente fechada. Aprender a produzir este semblante inexpressivo, alienado, e de trotar colocando um pé rigorosamente na frente do outro, deve compreender toda a “arte da passarela”. Exige-se das jovens total despersonalização; elas têm que entrar naquela bitola de manequim de vitrine. Nada de sorrisos, olhares, ou de trejeitos pessoais. Basta ficarem assim engessadinhas que o resto, o mais importante, fica por conta de sua beleza e da imaginação dos espectadores.

O carisma das modelos reside na atmosfera misteriosa artificialmente estudada. Um carisma arisco que geralmente se desfaz quando a modelo resolve abrir a boca, falar.

O Borghetinho, aquele craque da sanfoninha, tinha como marca registrada nos primeiros tempos, usar um chapéu que lhe cobria os olhos e metade do rosto. Nas poucas vezes que por acaso o vi na TV era assim que se apresentava: escondido pelo chapéu, compenetração total na sanfona; o apelo que daquela enigmática figura aliada ao virtuosismo do instrumentista, era de puro carisma. Certa vez o vi numa entrevista, falante e risonho e de imediato boa parte da fascinação com que o via foi-se por água abaixo.

O Carlitos do cinema mudo, foi muitíssimo superior ao Chaplin falante; a palavra em nada acrescentou à eloquente expressão corporal, à impagável mímica do grande ator do cinema mudo. Pelo contrário, ao abrir a boca e falar, Chaplin destruiu, afugentou, a aura que Carlitos lhe conferia.

Esta verdadeira lucubração me reporta aos tempos de guri quando meu pai aconselhava: “conte até dez antes de abrir a boca”. Esta lição também era veiculada em versão mais prosaica: “boca fechada não entra mosca”. Segundo ele, eu era um tagarela.

Calar, enfim, parece ser uma excelente tática que muito raramente é superada pela verborreia, pela eloquência gratuita. “Falar é prata, calar e ouro” é a fórmula com a qual a sabedoria popular cristalizou esta grande verdade."

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2 comentários:

Anônimo disse...

Em uma cidade em que a fofoca é o esporte preferido,ter opinião própria é quase considerado crime hediondo e onde A se transforma em Z rapidinho no boca a boca das pessoas realmente este é um bom conselho!

Chatadegalochas disse...

Por não termos acesso a determinadas pessoas, criamos imagens preconcebidas... chegamos até a idolatrá-las. Por tempos admirei muito o FHC ( professor, sociólogo, presidente e afins), porém, cultura não significa necessariamente deixar de ser bestial, prova disto foi a frase deste senhor: " Não podemos prometer o que não dá para fazer. Não é transformar todo mundo em rico. Nem sei se vale a pena, porque a vida de rico em geral é muito chata." Acabou com os tucanos,acabou com sua imagem ... talvez tenha-lhe faltado a adrenalina diaria de ser pobre !!! Neste caso aplica-se a frase: falar é prata, calar é ouro !!!