5 de agosto de 2012

LAURO BACCA


"A condenação da pedra

Se ninguém soubesse, diriam que ela sempre estivera ali, meio que arredondada, igual a tantas outras do lugar, geralmente menores que ela. Mas não. Nada discreta, de dimensões mais que elefantinas (uns 4 x 3 x 4 metros), peso cetáceo de umas 120 toneladas, chegou de supetão, amedrontadora a ponto de fazer a terra tremer na escuridão de uma noite de tormenta. Total contraste com o nome do lugar: Ilha do Sossego!

Os milhares de outros blocos de rocha da parte mais impetuosa e bela do Ribeirão Garcia, poder-se-ia dizer, foram arredondados e polidos pelo paciente esmerilhar erosivo dos séculos dos séculos. Ou milênios dos milênios. Mas esse aí não. Rolou quicando encosta abaixo e voou (pesadamente, por sinal!), parando estrondosamente na outra margem, mais de 10 metros adiante, quase fazendo o favor de destruir a área de uma piscina que nunca poderia estar ali, construída em APP (Área de Preservação Permanente) de margem de rio.

O volume de detritos geológicos (além da pedra) que desceu e ainda desce da encosta do Pequeno Spitzkopf é enorme. Desviou o leito do rio e quase acabou com a ilha fluvial logo abaixo, conforme bem noticiado no Santa em várias edições. Um fenômeno geológico acontecendo ao vivo e a cores, bem diante de nossos olhos, sem precisarmos esperar muitos séculos para ver como essas coisas acontecem.

Não fossem os potenciais danos às propriedades, poderíamos deixar tudo acontecendo como está. Não sendo esse o caso, algo precisava ser feito, pelo menos um meio termo, independente do aspecto emergencial que o fenômeno requeria. Fazer voltar tudo a ser como era, impossível, ou, numa relação custo-benefício, caro e desnecessário demais.

Uma das coisas absolutamente desnecessárias e que acabou sendo feita – fiquei pasmo – foi a detonação da grande pedra, pois, em hipótese nenhuma ela estava prejudicando o fluxo das águas. Ao contrário, na posição em que ficou, por um lance de sorte, ela até agiria como barreira natural na proteção da margem sob pressão do grande deslizamento, colaborando com os trabalhos da prefeitura. Serviço que a natureza nos prestou gratuitamente.

Nada disso, porém, foi percebido pelos responsáveis por obras da prefeitura. Para mentes eco doentias, alheias ao respeito e diálogo com a natureza, a pedra cometeu um crime, por ter ousado parar no local sozinha, sem ter sido posta por máquinas. Foi condenada à explosão sumária e, pior, seus pedaços serviram para a montagem de um muro de enrocamento, feito sob medida, para proteger as instalações da piscina fora da lei em área de APP. Ao invés de detonar a piscina ilegal, detonaram a pedra amiga. Alguém na prefeitura parece odiar a natureza e a Faema nem tenta, ou não sabe como, reverter esse ódio, já descarregado estupidamente contra o mesmo belo ribeirão, no pós-tragédia de 2008."
Autorizado pelo autor.
também publicado em www.santa.com.br

3 comentários:

Anônimo disse...

Que medida devemos tomar quando evidenciamos alguma irregularidade em alguma APP ??? A quem recorrer, a quem denunciar ???

Anônimo disse...

19:04

O Curador do Meio-ambiente é o Promotor de Justiça.

Isso quer dizer quê, se no caso de suas denúncias não forem atendidas pelo orgão da prefeitura ou outro, ou no caso de grave irregularidade, você pode procurar o mesmo.

Anônimo disse...

Ok... obrigado pela informação.