29 de maio de 2009

PUBLICADO NO BLOG DA SEB - SOCIEDADE DOS ESCRITORES DE BLUMENAU

MAMÃE E MINHA INFÂNCIA

Foi uma daquelas manhãs de chuva fina do mês de agosto de 1954. Como todos os dias, acordei cedo, vesti o uniforme da minha escola e desci as escadas em direção à cozinha para tomar meu café. Lá, encontrei minha mãe chorando e enxugando as lágrimas que caiam em seu rosto. Perguntei por que e ela respondeu que sonhara que o arbusto verde-amarelo plantado na divisa de nossa casa com a da tia Olga havia murchado e morrido. Dizia que isso não poderia ser bom porque, as cores da pátria da plantinha significavam alguma coisa muito importante. Sai e verifiquei que a plantinha continuava firme, forte e linda.Voltei e disse à minha mãe que parasse de chorar. Despedi-me e fui para a escola. Lá chegando, a merendeira (só Toddy na época) disse que poderia voltar pois não haveria aula. Curioso, perguntei por que e a resposta foi cruel e nunca será esquecida. O presidente havia se suicidado. Era manhã de 24 de agosto de 1954 e, queiram ou não queiram, até hoje tenho a impressão que junto com Getúlio naquele dia, morreu um pouco do Brasil. A plantinha da divisa, do sonho de minha mãe, de folhas verde-amarelas tinha muita representatividade. Retornei e contei à minha mãe porque não havia aula. Nós dois, fomos juntos para perto da plantinha da divisa e a contemplamos por alguns minutos em silêncio. Suas cores continuavam vivas e ela também. Por alguma razão que a própria razão desconhece, o arbusto foi o instrumento de comunicação com a minha mãe, sobre o infortúnio que se abatera sobre o país naquela madrugada. Até hoje, guardo a lembrança daquele dia e sempre que posso, leio a Carta Testamento que o saudoso presidente concluiu dizendo que “deixo a vida para entrar na história”.

RUBENS BACHMANN –maio/2009

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