2 de março de 2009

FIGURANTES




Outrora, no início da colônia, o imigrante vivia nestas terras como um alemão distante de sua pátria. Aqui estudava. cantava, rezava, comia, bebia e festejava como alemão na então “selvagem” América do Sul. O Vale era uma pequena Alemanha dentro deste Brasil gigante. Nossos avós viviam como alemães mas buscavam a cidadania brasileira para garantirem direitos, inclusive de votar e serem votados. Os alemães – e também os italianos - do Vale, mantiveram as tradições da velha pátria e pagaram um preço muito alto por isso. Tiveram que se calar e rasgar livros, abandonar princípios e esquecer valores. Nem na igreja lhes era permitido o culto em alemão. Nas casas, às escondidas, recebiam as bênçãos dos pastores e padres que tinham tal ousadia. Mas, voltaram a ter o direito de falar a língua de seus pais e reabrir seus clubes. Reorganizaram-se. As bandinhas voltaram a tocar nos clubes. Até nos cemitérios se voltou a ouvir e ver despedidas ao som do Gutter Kamerad. Após as cheias de 1983 e 1984, passaram a ser o melhor instrumento para transformar o Vale ou quiçá o Estado na atração turística típica e única no país. Vereadores aprovaram verbas para buscar votos. Deputados repassaram “auxílios” aos clubes e a maioria dos políticos passou a usar as tradições como prioridades de seus discursos na busca do voto do descendente dos pioneiros. E chegaram as festas. A Oktoberfest, a Pommerfest, a Kegelfest, a Schützenfest, a FestItalia e tantas outras. O comércio e os comerciantes adoraram. A Prefeitura aplaudiu porque a receita cresceu. As indústrias usaram as marcas das festas e faturaram alto...altíssimo. E o descendente dos imigrantes prestigiou tudo. Vestiu seu traje típico, muniu-se do caneco, colocou o chapéu e saiu cantando a cultura herdada dos pais e avós. Sem ele, a festa morre. A festa não é nada! As bandinhas precisam continuar a tocar. Os alemães e italianos precisam estar presentes nos trajes, na língua e nas canções. Os símbolos terão que estar presentes. A cultura da nossa gente não pode só ser um meio de receita para a Prefeitura, os comerciantes e os industriais. É preciso que se recompense aqueles que a mantém. Que as festas continuem e que as entradas dos descendentes sejam pagas pelos comerciantes, industriais e pela prefeitura. O lucro de tudo é deles. Sem os “figurantes” não obteriam resultados. É só uma questão de justiça e reconhecimento!

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