Ameaça e massacre
A agressão de um suposto caçador contra dois ambientalistas (Santa, 7 de agosto) escancarou ao Brasil e mesmo ao exterior uma espécie de podridão, um verdadeiro câncer socioambiental que se oculta no mosaico de sombras de nossas florestas: a caça clandestina, que grassa impune em vastas regiões, massacrando o pouco que resta da fauna silvestre.
O sujeito que atacou Wigold Schäffer na mata evidenciou para a imensa maioria das pessoas um cenário de guerra oculta travada sob o pretensamente tranquilo manto verde das florestas: roupas camufladas, armas sofisticadas de repetição, miras telescópicas e silenciador, fazendo com que a matança possa ocorrer até bem perto dos nossos lares sem que se ouça os estampidos dos disparos. O espaço que deveria ser de ecoturistas fotografando está dominado por verdadeiros serial killers da fauna, que também podem ferir ou matar pessoas. Fauna que, mal se recuperava, voltou a ser trucidada.
O desmantelo político da Polícia Ambiental estimulou os eco-tarados, inclusive jovens, que voltam a farrear com a matança de nossa fauna ao arrepio da lei. Os relatos são estupefacientes. Em vários lugares, proprietários são impedidos de caminhar nas próprias matas, intimidados por caçadores. Em Guabiruba, bastou reaparecer uma diminuta família de porcos-queixada e logo surgiu alguém que se encarregou da chacina, matando inclusive filhotes. Autoridades públicas sem escrúpulos ainda participam de banquetes com carne de caça abatida criminosamente. Fala-se até do caso de um médico do interior, próximo a Joinville, que aceita bicho abatido como pagamento de suas consultas.
Fora das florestas, o comércio urbano não tem o mínimo pudor em dar destaque vitrinal a armas, estilingues e outros badulaques da morte. Uma tradicional loja do Centro de Blumenau veiculou outdoors sugerindo presentear no dia dos pais, entre outras coisas, com espingardas. No mínimo, uma campanha publicitária infeliz, anacrônica e de péssimo gosto.
Verdades ou boatos, é fato que nossas florestas estão vazias de uma fauna que outrora foi das mais ricas e exuberantes. Eu, que frequento nossas matas (sob risco de ser baleado também), percebo essa verdade, desolado. Por isso, recuso-me a cantar que nossos bosques têm mais vida. Nosso Hino é mentira Nacional.
autorizado pelo autor
também publicado em: www.santa.com.br
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