ECOLOGIA
DE FACHADA
Para Wigold e Miriam
Visitei
um amigo em sua chácara em Cerro Azul, Paraná. A região é acidentada e completamente
devastada, resultado da extração
predatória e insaciável que acabou com as magníficas araucárias que
haviam por lá; por ser devastada, a região hoje se presta muito bem às
monoculturas de pinus, chamadas eufemisticamente de “reflorestamentos”. (Só
ingênuos ou românticos fariam um reflorestamento digno deste substantivo, com a
nativa araucária!).
O
lugar impressiona pelo silêncio; mal se escuta um pássaro ou outro, mesmo ao
amanhecer.
Conversa
vai, conversa vem, e descobre-se o insólito: caçar, o dito crime inafiançável, é coisa corriqueira, normal e perfeitamente
“legal” por lá: Em caminhadas pela região se escuta frequente um latido
estranho, um misto de uivo rouco e gemido, vindo de muitas moradias: “cães de
caça”, ensina meu amigo. Também há placas – bem apedrejadas – onde mal se
consegue ler: “Proibido Caçar”. A conversa é cheia de detalhes curiosos: quando
a Força Verde - simbólica presença da Polícia Florestal - é comunicada sobre
casos de caça, pergunta: quem está caçando? Ah, mas são apenas caboclos... eles
podem! Aliás: denunciar caçadores é colocar em risco patrimônio e a própria
vida, como no velho oeste.
Se
for avistado um mísero viadinho – cinicamente tratado por “cabrito” – forma-se
verdadeira “força-tarefa” para dar caça ao pobre animal. No comércio local
vendem-se pios (Apitos que imitam pios para atrair aves a serem abatidas) e
munição com a maior naturalidade, como se caçar fosse atividade tão legal e
inocente como cultivar rosas.
Comenta-se
que certo cidadão, enquanto ocupante de importante cargo na administração
municipal, costumava (ou costuma, vá saber!) mandar espalhar milho num local
próximo a um rio para atrair capivaras e pacas. Quando os animais estavam bem
habituados a esta ceva, ele próprio ia lá caçá-los...
Certamente,
Cerro Azul é apenas a ponta de um sórdido iceberg neste país onde leis são ou
não cumpridas a critério pessoal de autoridades menores. Detalhe: Cerro Azul
dista apenas cinquenta quilômetros em linha reta de Curitiba, a pretensa
“capital ecológica” do Brasil.
Uma
ecologia hipócrita, demagógica, de fachada, limitada ao perímetro urbano de
Curitiba...
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também publicado em: www.santa.com.br
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