19 de agosto de 2013

CEZAR ZILLIG



ECOLOGIA DE FACHADA

Para Wigold e Miriam

Visitei um amigo em sua chácara em Cerro Azul, Paraná. A região é acidentada e completamente devastada, resultado da extração  predatória e insaciável que acabou com as magníficas araucárias que haviam por lá; por ser devastada, a região hoje se presta muito bem às monoculturas de pinus, chamadas eufemisticamente de “reflorestamentos”. (Só ingênuos ou românticos fariam um reflorestamento digno deste substantivo, com a nativa araucária!). 
O lugar impressiona pelo silêncio; mal se escuta um pássaro ou outro, mesmo ao amanhecer.
Conversa vai, conversa vem, e descobre-se o insólito: caçar, o dito crime inafiançável, é coisa corriqueira, normal e perfeitamente “legal” por lá: Em caminhadas pela região se escuta frequente um latido estranho, um misto de uivo rouco e gemido, vindo de muitas moradias: “cães de caça”, ensina meu amigo. Também há placas – bem apedrejadas – onde mal se consegue ler: “Proibido Caçar”. A conversa é cheia de detalhes curiosos: quando a Força Verde - simbólica presença da Polícia Florestal - é comunicada sobre casos de caça, pergunta: quem está caçando? Ah, mas são apenas caboclos... eles podem! Aliás: denunciar caçadores é colocar em risco patrimônio e a própria vida, como no velho oeste.
Se for avistado um mísero viadinho – cinicamente tratado por “cabrito” – forma-se verdadeira “força-tarefa” para dar caça ao pobre animal. No comércio local vendem-se pios (Apitos que imitam pios para atrair aves a serem abatidas) e munição com a maior naturalidade, como se caçar fosse atividade tão legal e inocente como cultivar rosas.
Comenta-se que certo cidadão, enquanto ocupante de importante cargo na administração municipal, costumava (ou costuma, vá saber!) mandar espalhar milho num local próximo a um rio para atrair capivaras e pacas. Quando os animais estavam bem habituados a esta ceva, ele próprio ia lá caçá-los...
Certamente, Cerro Azul é apenas a ponta de um sórdido iceberg neste país onde leis são ou não cumpridas a critério pessoal de autoridades menores. Detalhe: Cerro Azul dista apenas cinquenta quilômetros em linha reta de Curitiba, a pretensa “capital ecológica” do Brasil.

Uma ecologia hipócrita, demagógica, de fachada, limitada ao perímetro urbano de Curitiba... 

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