A goleada do erectus
Para quem se interessa pela história da espécie humana, mas não pretende ser um especialista no assunto, o livro The human story – de onde viemos e como evoluímos, de Charles Lockwood, é ótimo. Mais conciso e didático, impossível. Até onde sei, esta pequena magnífica obra, publicada pelo Museu de História Natural de Londres, ainda não tem tradução para o português.
O que define o sucesso na evolução de uma espécie? – pergunta a certa altura o autor. A amplitude da área geográfica por ela ocupada? O impacto sobre o mundo? Ou, simplesmente, o tempo de sobrevivência da espécie na face da Terra? Se o critério considerado for o impacto sobre o mundo, não há dúvida que vencemos nós, os autoproclamados Homo sapiens, ainda que jogando sujo, impondo tremendas consequências negativas sobre o planeta. As florestas que somem, as poluições e as milhares de outras espécies que estão sofrendo, diminuindo ou simplesmente desaparecendo por nossa culpa que o digam.
Do ponto de vista de tempo de existência, diz Lockwood, o vencedor absoluto não somos nós, e, sim, o Homo erectus, o primeiro hominídeo que saiu da África e que perambulou por boa parte do planeta entre 2 milhões até uns 200 mil, talvez uns míseros 50 mil anos atrás. Nós, os Homo sapiens, surgimos neste planeta há uns meros 100 mil anos, quando muito, um pouco mais. Contra os quase dois milhões de anos de existência do erectus é perder feio, de goleada.
Ok, nossa espécie ainda vai caminhar (ou andar estupidamente de carro) sobre a face da Terra por muito tempo ainda, pode-se argumentar. Não sei não. Nosso colega Homo erectus, nos seus quase dois milhões de anos de existência, além de viver na África, espalhou-se rapidamente (em termos geológicos, claro), por quase toda a Ásia e as ilhas da Indonésia. Não eram apenas hábeis na confecção de ferramentas (alguns grupos inventaram a machadinha de pedra), mas também, como nós, eram capazes de se adaptar. Foram provavelmente os primeiros hominídeos a dominar o fogo, além de terem sobrevivido a muitas glaciações e mudanças ambientais, bem mais que nós.
Nós fizemos muitíssimo mais que o erectus, porém, se continuarmos sendo os besta-sapiens que temos sido, talvez não sobrevivamos a nós mesmos por muito tempo.
Autorizado pelo autor.
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