9 de setembro de 2013

CEZAR ZILLIG

Animal utilitarista
Sem dúvida, há uma grande diferença entre o homem e os demais animais. A diferença é tanta que muitos ainda veem o homem como um ser distinto, extraordinário, diverso de todo o resto da “criação”, num nicho especial, paralelo à escala zoológica. Acha-se tão especial e no direito de dispor a seu bel-prazer de toda a fauna e flora.

No entanto, para toda e qualquer habilidade humana os biólogos têm encontrado animais que exibem ao menos rudimentos de semelhante destreza. Isto sem mencionar habilidades que os animais têm e o homem não. Voar, por exemplo. Pelado, sem dentes ou garras ferozes, o homem e seus ancestrais expostos à natureza, sempre foram presas fáceis. Ocorre que o homem identifica propriedades; primeiro sabe avaliar as características das coisas e dos fenômenos químicos e físicos e depois sabe tirar vantagens disto. Cada vez que isto ocorre, diz-se que se deu uma descoberta ou uma invenção. Todo o processo civilizatório é um amontoado imenso de reconhecimento de propriedades, de invenções. Graças a isto, o homem deixou há muito de ser vulnerável.

Há invenções elementares e invenções complexas. As elementares são imediatas: a pele de um animal aquece. Um fio, como uma crina, permite unir alguns objetos. Fazer um nó é outra invenção elementar. Agora, tomem-se algumas peles e uma crina para alinhavar os pedaços de pele dando-lhes a forma de calça ou casaco, tudo firme com alguns nós, e tem-se uma invenção complexa.

Para onde quer que olhemos, encontramos os mais complicados sistemas utilizando infinitas propriedades dos materiais para obter interessantes fenômenos químicos ou físicos: o fogão utilizando da combustão do gás, ou das propriedades termoelétricas da eletricidade, para produzir calor e transformar alimentos nos mais saborosos e criativos pratos. Um automóvel, mesmo o mais simples deles, reúne infinitas descobertas humanas a começar pela invenção da roda ainda na pré-história.

Praticamente cada ação executada, mesmo nas mais simples, como lamber um fio para passar num buraco de agulha, implica em certo engenho, implica no uso desta habilidade essencialmente humana de reconhecer propriedades.

Reconhecer utilidades é mais importante que dentes ou garras ferozes.

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