Animal
utilitarista
Sem
dúvida, há uma grande diferença entre o homem e os demais animais. A diferença
é tanta que muitos ainda veem o homem como um ser distinto, extraordinário,
diverso de todo o resto da “criação”, num nicho especial, paralelo à escala
zoológica. Acha-se tão especial e no direito de dispor a seu bel-prazer de toda
a fauna e flora.
No entanto, para
toda e qualquer habilidade humana os biólogos têm encontrado animais que exibem
ao menos rudimentos de semelhante destreza. Isto sem mencionar habilidades que
os animais têm e o homem não. Voar, por exemplo. Pelado, sem dentes ou garras
ferozes, o homem e seus ancestrais expostos à natureza, sempre foram presas
fáceis. Ocorre que o homem identifica propriedades; primeiro sabe avaliar as
características das coisas e dos fenômenos químicos e físicos e depois sabe
tirar vantagens disto. Cada vez que isto ocorre, diz-se que se deu uma
descoberta ou uma invenção. Todo o processo civilizatório é um amontoado imenso
de reconhecimento de propriedades, de invenções. Graças a isto, o homem deixou
há muito de ser vulnerável.
Há invenções
elementares e invenções complexas. As elementares são imediatas: a pele de um
animal aquece. Um fio, como uma crina, permite unir alguns objetos. Fazer um nó
é outra invenção elementar. Agora, tomem-se algumas peles e uma crina para
alinhavar os pedaços de pele dando-lhes a forma de calça ou casaco, tudo firme
com alguns nós, e tem-se uma invenção complexa.
Para onde quer que
olhemos, encontramos os mais complicados sistemas utilizando infinitas
propriedades dos materiais para obter interessantes fenômenos químicos ou
físicos: o fogão utilizando da combustão do gás, ou das propriedades
termoelétricas da eletricidade, para produzir calor e transformar alimentos nos
mais saborosos e criativos pratos. Um automóvel, mesmo o mais simples deles,
reúne infinitas descobertas humanas a começar pela invenção da roda ainda na
pré-história.
Praticamente cada
ação executada, mesmo nas mais simples, como lamber um fio para passar num
buraco de agulha, implica em certo engenho, implica no uso desta habilidade
essencialmente humana de reconhecer propriedades.
Reconhecer
utilidades é mais importante que dentes ou garras ferozes.
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