O
FESTIVAL DAS ÁGUAS
Blumenau
não é apenas o berço da segunda maior festa da cerveja do mundo; ou o local de
convergência de motociclistas ou apaixonados pelos fuscas de todo o país. Ou
sede do FITUB. Todos vêm alegres aqui festar, exibir suas qualidades. E
Blumenau recebe a todos bem, reservando-lhes hospedagem em hotéis e quando
estes não bastam, a cidade, hospitaleira, oferece até mesmo as moradas dos
próprios filhos.
Ocorre
que Blumenau também é o lugar preferido pelas águas que volta e meia fazem aqui
rumorosos festivais despencando em cântaros dias e dias a fio. Elas não se
preocupam com hospedagem, afinal, sempre possuíram um “leito secundário”,
reserva, que tanto moradores e até a Marinha do Brasil acreditam serem seus.
Ledo engano.
O
festival das águas tem, porém, uma característica essencial: vem com um misto
de arrogância e indignação, não pede licença e nem se anuncia com muita antecedência.
Vêm conferir seu espaço: verificar se lhe assorearam ainda mais o leito do rio
ou lhe aterraram as partes mais baixas. Não faz cerimônia alguma em se
reacomodar, pois é fácil para as águas se expandirem um pouquinho mais, dar um
passinho à frente; uma coisa é certa: elas cobram até o último centímetro
cúbico que lhes foi incautamente tomado. O que também cuidam fazer é testar a
consistência das margens de seu rio e ribeirões, o vigor das matas ciliares.
Ficam irritadas quando em vez de vegetação, encontram gente morando
debochadamente em seus barrancos; adoram praticar desbarrancamentos e escancararem
esgotos clandestinos. Parece fazerem isto só para deixar em situação vexatória
toda a hierarquia municipal que passou batido ou fez de conta que nada viu.
Agora
está aí uma nova enchente, uma nova festa das águas; desta vez ela vai se
dedicar especialmente em testar o enrocamento da margem esquerda.
Há,
porém, em seleto grupo de profissionais que são ajudados pelas chuvaradas,
enxurradas e enchentes: são os ecólogos (cientistas, não apenas ecologistas
sentimentais) e os geólogos que nestas horas recebem atenção para os “inconvenientes”
alertas, conselhos, que constantemente fazem.
A
“catástrofe natural” vem sublinhar os seus ensinamentos, vem para dar-lhes
razão.
São
como as formiguinhas do famoso conto: no verão, com o tempo seco e o sol brilhando,
seus discursos se perdem no deserto, são vistos com uns estraga prazeres. Já os
demais agem como a cigarra, festam despreocupados, esquecem-se dos dias
difíceis e riem-se ingenuamente da sensatez.
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