24 de setembro de 2013

CEZAR ZILLIG



O FESTIVAL DAS ÁGUAS

Blumenau não é apenas o berço da segunda maior festa da cerveja do mundo; ou o local de convergência de motociclistas ou apaixonados pelos fuscas de todo o país. Ou sede do FITUB. Todos vêm alegres aqui festar, exibir suas qualidades. E Blumenau recebe a todos bem, reservando-lhes hospedagem em hotéis e quando estes não bastam, a cidade, hospitaleira, oferece até mesmo as moradas dos próprios filhos.
Ocorre que Blumenau também é o lugar preferido pelas águas que volta e meia fazem aqui rumorosos festivais despencando em cântaros dias e dias a fio. Elas não se preocupam com hospedagem, afinal, sempre possuíram um “leito secundário”, reserva, que tanto moradores e até a Marinha do Brasil acreditam serem seus. Ledo engano.
O festival das águas tem, porém, uma característica essencial: vem com um misto de arrogância e indignação, não pede licença e nem se anuncia com muita antecedência. Vêm conferir seu espaço: verificar se lhe assorearam ainda mais o leito do rio ou lhe aterraram as partes mais baixas. Não faz cerimônia alguma em se reacomodar, pois é fácil para as águas se expandirem um pouquinho mais, dar um passinho à frente; uma coisa é certa: elas cobram até o último centímetro cúbico que lhes foi incautamente tomado. O que também cuidam fazer é testar a consistência das margens de seu rio e ribeirões, o vigor das matas ciliares. Ficam irritadas quando em vez de vegetação, encontram gente morando debochadamente em seus barrancos; adoram praticar desbarrancamentos e escancararem esgotos clandestinos. Parece fazerem isto só para deixar em situação vexatória toda a hierarquia municipal que passou batido ou fez de conta que nada viu.
Agora está aí uma nova enchente, uma nova festa das águas; desta vez ela vai se dedicar especialmente em testar o enrocamento da margem esquerda.
Há, porém, em seleto grupo de profissionais que são ajudados pelas chuvaradas, enxurradas e enchentes: são os ecólogos (cientistas, não apenas ecologistas sentimentais) e os geólogos que nestas horas recebem atenção para os “inconvenientes” alertas, conselhos, que constantemente fazem.
A “catástrofe natural” vem sublinhar os seus ensinamentos, vem para dar-lhes razão.
São como as formiguinhas do famoso conto: no verão, com o tempo seco e o sol brilhando, seus discursos se perdem no deserto, são vistos com uns estraga prazeres. Já os demais agem como a cigarra, festam despreocupados, esquecem-se dos dias difíceis e riem-se ingenuamente da sensatez. 


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