
MEU TIPO INESQUECÍVEL
Em nossa região nos mais de 150 anos da Colônia do Dr. Hermann, muitas lideranças foram importantes para que a história de nossos antepassados fosse preservada e transmitida para as gerações mais jovens.
Diversos membros de uma só família – Deeke – nos legaram relatos importantíssimos. Merece destaque especial, José Ferreira da Silva.
Documentos de nosso arquivo histórico permitem conhecer a história de épocas e as comunidades religiosas são detentoras de documentos das famílias que aqui se estabeleceram desde o início da colonização, na metade do século XVIII. Outras fontes também merecem destaque.
Uma pessoa em especial, tornou-se para mim, o meu tipo inesquecível por tudo que fez em benefício da educação e da História de Blumenau ou, da colônia do Dr. Hermann Otto Bruno Blumenau e de sua gente
É D. Edith Korman, de saudosa memória, pequena mas, uma grande mulher.
Eu a conheci, criança ainda, quando iniciei meus estudos e ela era Diretora do então Grupo Escolar Adolpho Konder, no Bairro da Velha.
Antes, tinha sido a professora de meus irmãos mais velhos que eu invejava e sempre quis ter sido também, aluno de D. Edith.
Corria a década de 50, época de muito civismo, época de respeito aos símbolos nacionais, à pátria e de muito orgulho por nossos pracinhas da FEB na segunda guerra mundial.
Lembro de suas atitudes enérgicas e disciplinadoras no comando da escola e da sua capacidade de liderança que refletia em sua equipe de auxiliares na condução dos ensinamentos no educandário e onde as professoras formavam uma equipe em busca de um objetivo comum que era a qualidade de ensino da escola.
Época maravilhosa em que havia livro de ouro, a merenda se resumia a um copo de “Toddy” uma ou duas vezes por semana.
Tempo bom em que a gente trocava o lanche com os colegas e no recreio, comentava na língua do opa, as novidades de todos os dias.
A gente recebia o carinho de D. Maria a auxiliar de serviços gerais e D.Amélia, a merendeira dos “Toddy’s” nos disciplinava diariamente quanto ao nosso comportamento no pátio da escola.
Lá estavam D. Rosalba, D. Carminha, D. Edith, o professor Carlos que nos ensinou a cantar o ABC e tantos outros, não menos importantes na nossa formação inicial.
Comandando tudo, baixinha como também foi Napoleão e outros grandes vultos da história, D. Edith com suas mãos pequenas, coração grande e cérebro competente ditava o ritmo da escola e colocava o Adolfo Konder entre os bons colégios da cidade.
Essa pequena grande mulher, foi professora, teatróloga e escritora mas para mim, destacou-se como uma guerreira em defesa das tradições e dos costumes da boa gente que vive no Vale do Itajaí, nos muitos municípios de hoje que tiveram a sua origem na grande Colônia do Dr. Blumenau.
Escreveu seus livros e legou-nos todo o seu conhecimento manifestando sua opinião pessoal sobre muitos fatos, mas fundamentada em pesquisas realizadas com extrema seriedade e honestidade.
Era corajosa e quando necessário não se limitava a comentários, enfrentando de peito aberto quem quer que fosse contrário a seus princípios e conceitos fosse ou não importante autoridade.
“Brigava” pela conservação de fatos, documentos ou a preservação de patrimônios históricos.
Lembro que um dia, me disse, sem rodeios e com muita convicção que viria o dia em que, o rio Itajaí – Açu junto com o Ribeirão Garcia haveriam de tragar a construção intrusa (a cervejaria) da nossa praça histórica
Seus livros são fontes fidedignas de estudo e pesquisas de nossos estudantes e acadêmicos e haverão de se perpetuar na história de nossa gente e nossa região.
Nunca se negou a debater a então nossa atualidade e aceitava discutir a influência da FURB na transformação e na modificação dos hábitos e costumes de nossa gente.
Concordava que a vinda de novos imigrantes de todos os cantos do país como estudantes aprovados em vestibulares de nossa faculdade trouxe novas culturas que nossa gente assimilou e agregou aos costumes e tradições locais.
Manifestava-se com aprovação referindo-se àqueles que aqui se estabeleceram, contraíram núpcias ou exerceram profissão participando efetivamente das nossas tradições respeitando e promovendo a cultura de nossos antepassados.
Via outras culturas como a gaúcha ou a sertaneja se instalarem no Vale sem restrições mas, defendia a preservação da cultura alemã herdada dos pioneiros como fator muito importante e diferencial a ser explorado economicamente pelo turismo junto com as belezas naturais de nossa terra.
D. Edith soube viver e entender a boa gente da região e conviveu com todos como teuto-brasileira contribuindo enormemente para a historia de nossa terra e nossa gente.
Ela entendia as muitas gerações que sucederam as primeiras famílias que aportaram na foz do Ribeirão da Velha e respeitava a sua cultura.
Viu os descendentes manterem os hábitos de seus antepassados durante muitos e muitos anos, construindo igrejas, erguendo escolas e fundando clubes de caça e tiro ou cantando as canções da “Alte Heimat”, bebendo chopp e dançando alegremente.
Conhecia o sofrimento dessa gente causado pelas medidas de nacionalização instituídas na década de 30.
Viveu e viu aplicarem as medidas drásticas adotadas a partir de 42 com a proibição total da língua alemã, o fechamento das escolas, a destruição de livros e outras em vista da participação do Brasil, na segunda grande guerra mundial, ao lado dos Aliados, contra o Reich.
Ela contou a historia de nossa gente e fez parte desta história pela sua participação efetiva em defesa de nossa cultura e de nosso povo.
Pequena grande mulher haverá de ficar na memória daqueles que a conheceram como um exemplo a ser seguido.
Feliz de quem a conheceu e pôde com ela conviver, ouvir suas histórias, partilhar suas opiniões e testemunhar sua coragem.
Esteja onde estiver, tem aqui neste mundo um grande admirador.
Do livro: GENTE QUE É ou MENSCHEN UNTER UNS (traduzido para o Alemão) - Ed. Nova Letra - Blumenau - 2007 - pgs. 50/53 (Português) pgs. 55/59 (Alemão).
Autor: RUBENS BACHMANN
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