
"A fabulosa floresta atlântica!
Apesar da devastação acontecida, o pouco que sobrou de Mata Atlântica bem preservada no Brasil, menos de 8%, mostra uma incrível capacidade de resistência e de recuperação. No último dia 30, estive pela 79ª vez no Morro Spitzkopf, em Blumenau, e vi algo que passara despercebido antes. Um trecho plantado com uma espécie de Pinus na altura dos 800 metros há mais de 50 anos – equivocada concepção para repor árvores destruídas por um incêndio na década de 1950 – está sendo finalmente vencido pela floresta nativa. Os velhos Pinus de 25 metros de altura estão morrendo e a exuberante vegetação nativa toma conta do sub-bosque. Não se vê, ali, exemplares jovens da espécie exótica.
Percorro as matas do Alto Garcia, Encano e parte do Warnow há mais de 30 anos e tenho observado a recuperação das matas, início de um longo processo que pode demorar mais de 150 anos. A única coisa que precisou ser feita foi parar com as atividades humanas, como lavouras, pastagens, extração de madeira e o fogo. Lugares desmatados como a Boettgers Vargem, Ploteghers Vargem e Terceira Vargem hoje são consideradas com cobertura florestal nativa em estágio praticamente avançado de regeneração da floresta.
Na Terceira Vargem do Garcia chegou a existir uma serraria e cerca de 15 famílias residentes há 60 anos. Há 25 anos ainda era um pasto. Hoje é uma floresta em regeneração. Ali perto, o Morro do Sapo apresenta uma boa recuperação da vegetação de topo de morro, depois do incêndio que o consumiu em 1977. O pico do Spitzkopf, queimado há 16 anos, segue o mesmo caminho. Parece muito tempo para os padrões humanos e nada justifica a destruição, mas, se dermos uma chance, a natureza tem tempo e paciência para se recuperar.
Com a criação do Parque Ecológico Artex em 1988, o gado foi retirado da Segunda Vargem do Garcia e deixou-se de roçar até as margens dos rios. Quem observa a pujante mata ciliar ali existente custa a acreditar que ela se recuperou sozinha, sem o plantio de uma única muda de árvore sequer! Até mesmo antigos deslizamentos de encostas acabam cicatrizando com o tempo.
Diferente de vastas extensões do interior de Minas Gerais e outros estados onde não há mais remanescentes para fornecer sementes, a Floresta Atlântica da Serra do Mar consegue se recuperar por si só, sem grandes custos, desde que retiremos os fatores de destruição. Por aqui, notadamente no Parque Nacional da Serra do Itajaí, sobraram bons fragmentos de floresta de onde a natureza sozinha buscará suas sementes e outras formas de recuperação. Não temos estação seca definida nem séculos de degradação de solos como em outras partes do Brasil. Sorte nossa, pois, com isso, podemos canalizar preciosos recursos financeiros para outras ações de preservação da natureza, mais urgentes e prioritárias."
também publicado no www.santa.com.br

Nenhum comentário:
Postar um comentário