
Balneários de Blumenau
A família do jovem Vítor chegou a colher água no Ribeirão Garcia para uso doméstico, fazer comida, inclusive. Um ano mais novo e morador logo acima na margem oposta, o adolescente Félix conheceu as refrescantes e límpidas águas, onde banhavam-se praticamente todos os jovens da época. Foi por ali que Lauro, uns 13 anos depois, aprendeu a nadar. Mergulhava com máscara e snorkel no rio e se deliciava, apreciando em sua volta, o balé de centenas de piavas, carás, tajabicús e outros peixes, na incrível transparência das águas.
Vizinhos de margens opostas do Garcia, Vítor e Félix não imaginavam que iriam tornar-se prefeitos de Blumenau. Félix Theiss, o jovem da margem direita, governou a cidade de 1973 a 1976, quando a poluição começava – não por culpa dele – a se fazer sentir. Victor Sasse, o vizinho da margem esquerda, eleito vice-prefeito, assumiu a chefia municipal de abril de 1990 a dezembro de 1992, com a poluição galopante já sufocando os rios. O terceiro jovem é o articulista que vos escreve. Os três viveram a tempo de conhecer um Garcia ainda límpido, apenas um quilômetro acima da foz no Itajaí. Cem anos antes, teriam sido vizinhos do naturalista Fritz Müller que, por coincidência, morou por ali mesmo, no lote nº 1 da Colônia Blumenau, época em que nada poluía as águas do Garcia.
Praticamente todos os blumenauenses com mais de 50 anos tiveram no Itajaí ou nos ribeirões da Velha, Testo, Fortaleza, Itoupava e outros, os fantásticos balneários improvisados de verão. Na década de 1970, a prainha da Ponta Aguda era praia movimentada mesmo, frequentada por centenas de banhistas. Tinha até proteção de salva-vidas do corpo de bombeiros, antes da poluição exorcizar a pureza de águas e areias e os aterros, qual operação plástica malsucedida, deformarem a prainha.
Trezentos mil habitantes, muito esgoto e lixo depois, um a um, os balneários naturais de Blumenau ficaram imprestáveis, exceto o último de maior porte que ainda resiste, o alto Ribeirão Garcia, frequentado por milhares de pessoas nos finais de semana quentes do verão, na região da Nova Rússia e proximidades.
Só quem já experimentou sabe a delícia que é um revigorante banho de rio, com sabor de aventura e sem cheiro de cloro ou qualquer outra artificialidade. Só que esse privilégio não sai de graça. Para que Blumenau não corra o risco de perder o último balneário de forma estúpida e imperdoável, precisará de medidas simples, porém eficazes e enérgicas, de controle do uso e ocupação inadequados do solo que já estão ameaçando o lugar. O governo precisa marcar presença urgente para ocupar o espaço, antes que aumente o domínio dos que constroem irregularmente, dos poluidores, depredadores da paisagem e mal-educados que jogam lixo e fazem barulho no lugar.
autorizado pelo autor.
tambem publicado em www.santa.com.br
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