4 de fevereiro de 2012

LAURO BACCA



Dez milhões em jogo
Continuo achando que a Prefeitura de Blumenau está em vias de perpetrar lamentáveis equívocos com a obra da margem esquerda. Com os desbarrancamentos decorrentes da enchente de setembro, que lembram os da grande enchente de 1984, predominou o domínio da emoção, prejudicando um debate mais racional sobre o assunto.

Já argumentei, talvez não o suficiente, a favor de uma obra estrutural que proteja a margem, mas que permita a volta da mata ciliar, que nesse caso não teria ali uma função protetora, mas sim uma função de manutenção do corredor ecológico no local. Mas o assunto de hoje é outro. A obra que está para começar foi orçada com o dobro do preço previsto antes da última enchente, saltando de R$ 10 milhões para R$ 20 milhões. Segundo os engenheiros, é por que será preciso dobrar o volume do enrocamento a ser executado, de forma a recuperar o perfil da margem de antes das enchentes.

Não dá para entender. Após as catastróficas enchentes de 1983 e 1984, executaram-se obras de dragagem e alargamento do leito do Rio Itajaí-Açu. Agora que ele se alargou sozinho no centro da cidade, querem estreitá-lo de novo.

Se as mudanças climáticas vieram para ficar, acho esse estreitamento temeroso. Nos últimos quatro anos, desde 2008, têm chovido bem acima da média em nossa região, com as consequências que todos conhecem. Os cursos d’água, com mais chuvas, passam a ter uma vazão média maior. Se essa tendência de mais chuvas persistir em nossa região, isso quer dizer que todos os nossos rios, na busca de um novo equilíbrio, tenderão a se alargar, “devorando” as margens em muitos locais, centro de Blumenau inclusive. Por isso, qualquer intervenção nos rios deveria levar em conta essa possibilidade. O Itajaí-Açu, desequilíbrios à parte próximo ao limite com Gaspar, está se alargando. Na contramão dessa possível tendência, o paço blumenauense agora pretende estreitá-lo, estrangulá-lo ainda mais. Já foi feito isso com a Beira-Rio na margem direita há 40 anos, agora querem engessar o rio no lado esquerdo.

A prefeitura deveria agir com e não contra a natureza, considerando a nova largura buscada pelo rio com as mudanças climáticas. Caso não precise desse espaço extra, o rio simplesmente voltará a estreitar-se com o tempo, depositando sedimentos nas margens, exatamente como vem acontecendo em Gaspar, nos locais em que ele foi alargado demais após 1984. Uma obra assim seria reversível. Caso contrário, quem irá no futuro arrancar as centenas de milhares de toneladas de rochas e concreto que serão depositados na margem esquerda?

Só o tempo, talvez décadas, dirá quem tem razão. Poderei não estar mais vivo para saber o resultado, mas não importa. Só sei que existe a possibilidade de R$ 10 milhões estarem sendo usados para fazer a coisa errada.


Autorizado pelo autor.
Também publicado em: www.santa.com.br

4 comentários:

Anônimo disse...

A questão, é uso do dinheiro público, pra fazer as coisas erradas.
Com meu dinheiro eu estreito e alargo onde eu quero.
Agora, esbanjar com dinheiro público, causa uma repulsa.

Anônimo disse...

nessa materia do Lauro, tenho que concordar. Em algumas ele "viaja" mas nesta eu concordo. A situação da margem esquerda em blu é complicada, e discutida pq contem propriedades de alto valor comercial (ou tinham); mas há varias outras areas as quais devem ser reprojetadas, e não a apenas atender aos interesses dos coroneis. Exemplo: atrás/ao lado do shopping neumarkt havia um corrego que brotava agua vinda do morro! sabiam? aonde foi parar? fecharam e canalizaram p/ contrução do shopp. A água se reservou aonde? foi para onde? dificil dizer... pensem um pouco...vão chegar lá. e quantas foram fechadas em blumenau? em Pomerode? A alteração de cursos de agua, aterramentos ciliares TEM QUE TOMAR CUIDADO, tanto se for do dinheiro publico, quanto se for do privado (p/ 19:19). Toda ação humana tem que avaliar as consequencias, tanto ambientais, quanto sociais.
Podemos citar coripos, garcia, testo alto, itoupavazinha...

Anônimo disse...

19:19

Nem com dinheiro próprio se alarga ou estreita. É crime ambiental. Lá no caso tem estudos, aí poderá ser feito para proteger as áreas atingidas.

Anônimo disse...

Já que alguém falou em alargar. Aqui na cidade, alguém que faz parte atualmente do secretariado, queria alargar o ribeirão do Wunderwald.
Sabe como é, queria favorecer amigo do bairro que tinha obra embargada por estar sendo feita em área de proteção. Assim sendo entrou com ofício para o Conselho do meio-ambiente solicitando a liberação para tal, sabem como é, queria aumentar a distância da obra para que a obra pudesse ser concluída. Em resumo, não conseguiu isso junto ao conselho, e ainda seu amigo por determinação judicial deve que demolir a área, para ficar dentro da legislação, sendo que a demolição aconteceu já nesse mandato. O seu amigo deve ter pensado, mas esses caras mandam o quê. Realmente em certas situações os mesmos não mandam nada.