4 de dezembro de 2011
LAURO BACCA
"Prezada senadora
Prezada senadora, vossa recente declaração na TV foi a gota d’água para aquilo que muitos já sabiam, por isso resolvi lhe escrever através deste jornal regional e distante de vossa terra, mas que sabemos que é lido por seus pares catarinenses no Congresso Nacional. Vossa Excelência lidera movimentos que vão afetar o futuro do Brasil inteiro, Santa Catarina e nossa região dos Vales, inclusive. Nosso ex-governador e vosso atual colega no Senado também liderou coisas semelhantes por aqui. Refiro-me ao projeto de reformulação do Código Florestal Brasileiro.
Numa cartinha assinada como presidente da Confederação Nacional da Agricultura, V. Excia. reclama das restrições ambientais injustificáveis à liberdade de produzir dos agricultores e do agronegócio e afirma que “estamos próximos de aprovar mudanças no Código Florestal, apesar das pressões das ONGs financiadas por países estrangeiros (SIC), nossos concorrentes”.
Como tantos outros que lutam sincera e honestamente por uma causa real e não imaginária, senti-me indignado. Desde jovem, tenho lutado pela defesa do meio ambiente simplesmente por que ele vem sendo destruído insanamente e a olhos vistos, cujas consequências afetam e prejudicam cada vez mais gente, e não por pressão de qualquer tipo. A devastação ambiental é uma ameaça concreta que paira sobre todos nós e independe de qualquer ideologia ou interesse socioeconômico, senadora!
E a gota d’água? Foi quando, ao exemplificar vossa posição sobre o atual código florestal, V. Excia. defendeu a liberação da produção agrícola em terrenos íngremes, afirmando na TV que “25 graus é uma rampa muito baixa, mais de 80% do leite do país é produzido nesses terrenos”. Vossa assessoria deve ter-lhe orientado mal. Quem sabe o que é uma declividade superior a 25 graus jamais defenderia a produção agrícola nessas rampas, senadora. Desculpe, mas se 80% do leite produzido no país é nesses terrenos, então, estamos indo, definitivamente, de mal a pior. Pastagens ou lavouras nessas declividades são um lento suicídio agrícola e ambiental, não podemos defender este tipo de coisa. É como se alguém defendesse a viabilidade econômica do transporte público em ônibus sem freios e pneus carecas.
Essa vossa opinião evidenciou claramente a ponta do iceberg do baixo nível técnico dos debates a respeito do Código Florestal brasileiro no Congresso Nacional. Meio Ambiente é uma questão acima de tudo técnico-científica, não tem como discuti-lo como se discute um código penal, por exemplo. Sendo assim, os cientistas brasileiros deveriam ter sido seriamente ouvidos, mas parece que não foi o que aconteceu, pois, se assim fosse, o nível dos debates seria outro. O Senado, felizmente, já melhorou alguns aspectos do projeto do Código Florestal, por isso lhe escrevo, senadora, pois ainda falta melhorar muito mais. Será que ainda dá tempo, antes que seja tarde demais?"
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Um comentário:
25% de inclinação, é a inclinação usada normalmente na maioria dos telhados das casas.
Precisa ser uma vaca meio atleta, para não cair.
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